segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

A face de Cristo


#9 - O que esta imagem desperta em você?
Você é um cara legal? Uma menina bacana? Perguntas desse tipo costumam ser direcionadas não a você, diretamente, mas indiretamente, para pessoas que convivem com você. E aí, já se perguntou como seu pai, sua mãe, seu irmão, seu parceiro ou vizinho responderiam a esta questão?

Essa pergunta é um desdobramento da imagem acima. Dias atrás compartilhei-a com alguns amigos e as respostas me chamaram bastante a atenção. A partir delas, nasceu este post.

E lá vamos nós para mais um #postinterativo!
Esta é a face de Cristo, acredito que não seja novidade para você. Uma pintura que de tão usada e propagada desconhecemos seu criador. E quando falo aqui de face de Cristo, a ideia é exatamente esta, pois não importa o artista desta ou daquela obra de arte. Afinal, quem sabe realmente como Jesus era?

Esta indefinição convida diariamente a cada um de nós colocar a própria face no lugar desta. Se um dia fomos criados a Imagem e Semelhança de Deus, nada mais natural. "Ahh, mas como isso é difícil", você pode me dizer. E sim, eu concordo plenamente!

Mas vamos lá. Não há nada que Jesus nos convide do qual Ele não tenha feito também. Se olharmos com atenção, vamos descobrir qual é a receita.
Somos imperfeitos. O que significa que iremos tropeçar pelo caminho da santificação. E é aqui que reside o "não se importe em provar isso" da imagem compartilhada. Julgamos uns aos outros sem perceber, sendo isso certo ou errado, não é mesmo? Assim toda atitude que vem na contramão do mundo vai gerar julgamentos e apontamentos. 

O processo de refletir a face de Cristo, de tornar-se santo, não acontece da noite para o dia, mas é um processo. Uma caminhada que começamos no dia de nosso batismo e levamos até o dia de nossa morte. Por isso quando alguém levantar a voz contra você, seja humilde, tenha calma e não cesse, pois o caminho se faz caminhando.
É bem verdade que muita gente se perde no caminho por conta de vaidade. Somos imperfeitos e também narcisistas. Mas aqui ao invés de ir na contramão do mundo, estará indo na contramão de Cristo, que sempre agiu com simplicidade. O Evangelho diz:

"Quando deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita.
Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.
Quando orardes, não façais como os hipócritas, que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa.
Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê num lugar oculto, recompensar-te-á."
(Mateus 6, 3-6)
Logo, vamos percebendo que refletir a face de Cristo significa agir com compaixão e sem vanglória. Não somos dignos da graça de Deus agindo em nós. Ele assim faz por Amor, e tudo o que podemos fazer é sermos gratos. Não numa gratidão triste de quem confunde humildade com passividade. Mas ir além e anunciar Seu plano de amor sem fazer alarde, sem usar palavras, apenas sendo.

Percebemos também que nossa recompensa é o céu. Quando fazemos a escolha por ser de Cristo, muitas coisas precisarão ser mudadas e sempre haverá alguém para nos lembrar disso. Mas nossa alegria está em saber que o céu nos aguarda, ansioso.

Assim, percebemos por fim que tudo se resume em uma escolha: qual a face da qual está disposto a refletir? Sua própria face, e ser admirado por isso? Ou a face de Cristo, e viver as perseguições que um dia Ele viveu, na certeza de que seu preço já foi pago na cruz?

A escolha é sua. Faça-a com o coração tranquilo.

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

O consumo

"Pense, fale, compre, beba
Leia, vote, não se esqueça,
Use, seja, ouça, diga
Tenha, more, gaste, viva
Não, senhor
Sim, senhor
Não, senhor
Sim, senhor."
(Pitty - Admirável Chip Novo)

A canção da cantora brasileira faz referência ao livro Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley, que apresenta um mundo onde todos são separados por castas, severamente controlados pela tecnologia e todos os problemas são resolvidos por uma droga. A obra é uma crítica a nossa sociedade, marcada pela aceitação das coisas como são, mas teremos outro momento para tratar de questões filosóficas.

Se hoje nos parecemos com as características citadas acima, talvez nossa droga tenha um nome: o consumismo. Até onde esta cultura interfere em nós enquanto humanos e cristãos?

Venha, afinal, o que é da graça não custa nada!
Vivemos em uma cultura que nos convida o tempo todo a confundir o que tem valor e o que tem preço. Existe exemplo mais próximo de nós que o Natal? Somos envolvidos de tantos presentes que corremos o risco de esquecer que Jesus nasceu e nasce no meio de nós.

Como já disse tempos atrás em meu texto sobre a procura da felicidade, somos ensinados desde crianças a acreditar que tudo que há de bom vem de fora, nos levando a tornar-nos cada vez mais adultos sedentos por dinheiro, status e prazer.

Porém, não fui eu e nem você quem criamos o capitalismo. Estamos na chuva! Porém, não precisamos nos molhar, ou ao menos não nos encharcar.

Não, eu não sou leviano. Não estou aqui para jogar tudo para o alto. Comprar é bom! Ser capaz de ter acesso a coisas que tem vontade através do seu esforço tem seu valor! Mas comprar também tem seu preço. Assim como pecar parece bem gostoso no começo, mas guarda um gosto amargo no fim, o consumo nos convida a uma série de confusões.
Confundimos ambição com cobiça. Ter ambição é buscar ser o melhor de si a cada momento. Se hoje você é um bom aluno, um bom filho, um bom empregado, um bom namorado ou marido, pode se tornar ainda melhor. Porém, ter cobiça é querer o melhor unicamente para si. Os outros pouco importam.

Aprendi certo dia com Mário Sérgio Cortella: "gente grande sabe que é pequena e por isso cresce. Gente pequena acha que é grande e precisa pisar nos outros pra se sentir melhor"Percebe que quem busca ser melhor para o outro se engrandece e quem busca ser melhor para si se perde no caminho? O consumo nos convida a isso o tempo todo, cuidado!!
Como também já disse anteriormente, confundimos alegria e euforia. Enquanto a euforia passa, a alegria fica. Quem precisa gastar todo o dinheiro que tem em uma noite não é alegre, mas eufórico. Quem coloca os joelhos no chão e roga a Deus por uma graça com certeza não vai encontrar euforia nenhuma, mas terá a graça da verdadeira alegria.

E para finalizar, como venho dizendo, confundimos o que tem valor e o que tem preço. Como saber a diferença? Simples! Tudo o que não pode ser comprado tem valor, e o restante, tem preço.

Um exemplo: um carro, tem valor ou preço? Se você compra com reais, dólares ou euros, acerta quem diz que tem preço. Mas onde ele pode te levar? A um passeio com sua família? Valor! A uma viagem dos seus sonhos? Valor! A um acidente embriagado? Preço!
Outra diferença marcante: o que tem preço desvaloriza com o passar do tempo. Assim, o que tem preço perde aos poucos seu valor, enquanto o que tem valor em si, não!

Devemos pesar o valor e o preço o tempo todo na balança. Quando Jesus disse que veio para os pobres e para as crianças, quis dizer exatamente isso: veio para os que dão valor para a vida independente das etiquetas.

Que tenhamos a presença de espírito para ser como os pobres, neste sentido. A começar pelo nosso Natal, ensinando a nossas crianças que o Papai Noel tem seu valor, sim, mas ele acaba na noite de Natal. Jesus menino, não: seu infinito amor nos valoriza a cada minuto.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

Paixão é envolvimento, amor é comprometimento

Apresentamos uma nova seção em nosso blog: os Versos de Fé!

Aqui, irei trazer poesias que buscam traduzir em palavras as emoções e sentimentos que só quem tem fé e vive de fé será capaz de compreender.

Espero que gostem! Deus os abençoe!

Abraço fraterno,

D.C.Ψ.



Ao olhar para a face de Cristo
aprendi que
amor não se resume em sorriso
Percebi que
sou humano de menos
e Ele, humano demais,
vai além de um simples apaixonar.

Ele,
que não quis humanizar o sagrado,
mas sacralizar o homem,
e nos lembrar que
um dia
fomos criados Sua imagem 
e buscar Tua semelhança é marca
em nosso coração.

Como então,
seguir nossa natureza
sem se deixar abater
pelo que parece simples
mas só é barato hoje
e caro custa amanhã?

A resposta está
em não confundir amor e paixão,
pois enquanto um busca ansioso se preencher
o outro espera o tempo de Deus
que é diferente do nosso
e se faz completo
pela paz
da entrega.

A morte de Cristo é Paixão
pois já acabou
seu Amor, porém, ressuscitou,
hoje vive, ficou
e ao olhar para Tua face
compreendo, que
paixão é envolvimento
e amor é
comprometimento.





domingo, 15 de novembro de 2015

A película


#8 - O que as pessoas procuram na tela de um smartphone?



Dias atrás me deparei com esta imagem acima, me coloquei a pensar e compartilhei com alguns amigos, estendendo a eles a pergunta que me fazia: o que as pessoas procuram na tela de um smartphone?

Pois é fato, algo elas procuram. Melhor dizendo, nós procuramos, me incluo nessa. A maioria de nós hoje passa horas diante destes aparelhos, que nos conectam a pessoas que estão por um momento longe e universos jamais explorados. Há quem se relacione até mesmo com pessoas "de mentira", que nunca viu pessoalmente, indivíduos digitais resumidos em poucos kilobytes.

Estar conectado é bom ou ruim? Quando isso interfere em minha vida real? E na minha vida digital, está tudo bem mesmo? E quanto a minha prática de vida cristã, algo a dizer sobre isso?

Através desta reflexão, pude chegar a algumas conclusões, que divido com vocês agora. Vamos nessa?
Película. Fina camada de pele. Membrana. Antigamente palavra usada somente para se referir a uma obra do cinema. Hoje, material que mantém a sobrevida de nossos tablets e celulares. Sua característica principal é proteger o que há de baixo, mostrando muitas vezes uma realidade fantasiosa e pouco realista. Assim é no cinema, onde a intimidade dos atores não importa, mas a vida do personagem. Assim também nos smartphones, onde nos tornamos quem quisermos, como verdadeiros personagens de nós mesmos.

Não sou leviano a ponto de condenar a tecnologia e #partiuépocadascavernas. Não fossem as redes sociais, este post não seria interativo, pois foi através deles que pude alcançar as pessoas. Mas a sacada está em ter a tecnologia a seu serviço e não estar a serviço dela, entende?

Hoje em dia vejo pessoas que não largam o celular pra nada. E não é nada de nada de mais, é nada de nada! E lamento profundamente, pois aqui fora a vida é bela e de verdade.
Cada vez mais estamos diante de pessoas que parecem, mas não são. Tudo bem, o senhor da foto acima parece mesmo com o cara do desenho, mas ele não é ele!! Nem tudo é o que parece, não é mesmo? Quem nunca deu aquele "confere" no perfil de alguém no Facebook e tempos de convivência depois percebeu que ela não era nada daquilo que parecia? Isso se explica muito facilmente: somos muito mais que hashtags e categorias.

Quando estamos diante das pessoas, devemos nos lembrar sempre que estamos diante de uma história, de um sonho, de uma realidade. Esquecer disso é tornar tudo superficial e descartável, assim como no mundo virtual.
Percebo que o mundo virtual exige muito menos de nós enquanto pessoas. Dias atrás vi na televisão uma propaganda de um aplicativo (app) para comida delivery que trazia como slogan a frase "aqui você pede comida sem falar com ninguém". Quando foi o dia em que não falar com ninguém se tornou um atributo positivo?

Estamos mais narcisistas e egoístas do que nunca, os filósofos diriam. E tal comercial só existe porque existe demanda. Não tenha dúvida que nos identificamos com tal ideia. E é aqui que mora o perigo.
E quando falamos de fé e vida cristã?

Já falei sobre a era do aplauso e vaidade anteriormente, mas aqui gostaria de tratar de um ponto específico sobre fé e egoísmo. Corremos o risco de buscar um Jesus pessoal, que atende a MEUS pedidos, do MEU jeito e no MEU tempo. Porém, tudo o que devemos buscar é um Jesus que é meu irmão, assim como é irmão de todos que estão ao meu redor.

Viver a fé em comunidade é isto: compreender que o tempo de Deus é diferente do meu e que todos nós vivemos debaixo do mesmo guarda-chuva, que chamamos de Misericórdia. Você não é melhor que ninguém. Eu não sou melhor que ninguém. Mas juntos, podemos ser melhores para alguém. Essa é a essência.

Que nossa vida não seja resumida em prints e dados frios, e que o calor humano aqueça nossos dias para além de si.

domingo, 4 de outubro de 2015

Francisco, um jovem missionário

Assis, a pequena cidade do centro da Itália, é conhecida mundialmente por ser o lugar escolhido por Deus para dar a luz e ser berço de um dos maiores homens de nossa Igreja: Giovanni de Pietro di Bernardone, mais tarde, São Francisco.

Assis de Francisco. Francisco de Assis. O que podemos aprender com o jovem missionário que um dia abandonou todos os seus bens em favor do próximo?

Hoje, lhe convido a caminhar pela história deste grande santo de nossa fé católica.
Francisco era um jovem bem abastado, nascido em uma família de posses e boa vida. Popular entre seus amigos, sempre teve o coração voltado para as coisas do alto, sentindo que Deus o chamava para algo maior. Mas como todo jovem, se via envolto em dúvidas.

Se Francisco não nasceu santo, e isso é fato, uma série de acontecimentos levaram-o a alcançar a santidade.
Cristo buscou o jovem através de um sonho, onde pedia que Giovanni seguisse seus passos. O jovem naturalmente sentiu medo e pouco entendeu. Mas aquele chamado se manteve como uma chama acesa dentro de seu coração.

Tudo mudou quando um dia o jovem foi até a capela de São Damião, onde costumava orar e conversar com Deus, e o crucifixo falou com ele. Não de forma poética, mas de forma literal. O jovem estava diante de um milagre. Era Cristo falando em primeira pessoa: "vai, e reconstrói a minha Igreja!"

A reação do jovem ao chamado? Reconstruir o templo, a Igreja física, por que não? Assim o jovem saiu pela cidade de Assis, reformando as capelas do lugarejo.
Mas é claro, sua missão era muito maior do que um simples serviço de pedreiro. Passaram-se alguns anos para que durante uma missa o jovem entendesse o real sentido do chamado de Jesus. O Evangelho daquela missa era de São Mateus, capítulo 10:

"Ide, disse o Salvador, e proclamai em todas as partes que o Reino do Céu está aberto. Vós recebestes gratuitamente; dai sem receber pagamento. Não leveis nem ouro, nem prata nem cobre em vossos cintos, nem um alforje, nem uma segunda túnica, nem sandálias, nem o cajado de viajante, pois o trabalhador merece ser sustentado. Em qualquer vila em que entrardes procurai alguma pessoa digna, e hospedai-vos com ela até partirdes. E quando entrardes em uma casa, saudai-a; se a casa for digna, desça sobre ela a vossa paz; mas, se não for digna, torne para vós a vossa paz."

Foi ouvindo a Palavra em que Cristo chamava seus doze apóstolos que Giovanni começou a se tornar Francisco. Ali compreendeu que a Igreja de que Jesus lhe falara pessoalmente era a Igreja que permanece viva dentro do coração de cada irmão.

Foi em uma atitude impulsiva (jovem!!) que Francisco saiu de forma apressada da Igreja onde ouvira o Evangelho, correu até a porta de sua casa, despiu-se das roupas que usava e entregou ao pai, dizendo que entendera sua missão e a partir daquele momento viveria da providência divina.

Os passos seguintes de sua missão todos sabemos: tornou-se um grande missionário, vivendo pelo bem dos pobres e injustiçados. Os leprosos, que costumavam viver com um sino no pescoço para anunciar sua chegada para que os demais se ausentassem, encontraram em Francisco um amigo do qual não precisavam ter medo de serem eles mesmos.

Pelos cuidados com toda a natureza como obra de Deus, chamando a cada um de irmãos e irmãs (Irmão Sol, Irmã Lua,...), tornou-se padroeiro dos animais.

E ao dizer SIM, morria o jovem Giovanni e nascia o santo.
O que podemos aprender com este homem? Muita coisa, sem dúvida. Mas se pudesse resumir em dois aspectos, de forma bem despretenciosa, diria que foram a fé e o espírito jovem quem transformaram Francisco em um dos grandes da Igreja.

Fé que crê no impossível. Fé que escuta o chamado e não se contenta em ser o mesmo. Fé que atende o pedido, mesmo que longe do ideal, pela humildade de ser quem se é. Fé que sabe que o melhor vem de Deus.

Espírito jovem que não tem medo de cara feia, porta fechada ou preconceitos de quem não enxerga além do que se vê. Espírito jovem que por ser destemido, é corajoso, e aceita a simplicidade da vida sem reclamar. Espírito jovem que não deixa que a chama jamais se apague.

Que tenhamos a coragem de ser como Francisco!

São Francisco de Assis, tende piedade de nós!


terça-feira, 8 de setembro de 2015

A caridade


#7 - O que é caridade?

Caridade. Fazer o bem, pelo bem. Não olhar a quem. Amor sem vanglória. Dar a mão ao próximo. Ato de compaixão. Ausência de pretensão. Doação.

A caridade é algo que falta nos dias de hoje. Se vivemos em um mundo desigual, onde o rico cada vez fica mais rico e o pobre cada vez fica mais pobre, a caridade é um caminho possível para se ver a luz no fim do túnel.

Onde encontrar a verdadeira caridade? Somos de fato caridosos ao fazer o bem? Caminhemos juntos por estas e outras respostas.
A palavra caridade vem do grego caritas e é uma das várias formas de amor, como comentado anteriormente aqui. Portanto, quando alguém diz que caridade é amor, diz mais do que certo! Porém, esta é uma forma de amor um pouco diferenciada.

Além de virtude humana, a caridade é também uma virtude teologal da Igreja Católica. O que isso quer dizer? Que esta é uma virtude que nos liga diretamente a Deus. Como? Através da ligação direta com o irmão.

Pregar o amor e o respeito sem praticar a caridade não passa de mero discurso e moralismo.
E falando sobre prática, vale lembrar que caridade não é um evento marcado em cores coloridas em seu calendário.

É comum associar a caridade com o vestir-se de Papai Noel e distribuir presentes para as crianças pobres no dia do Natal. Mas a caridade não é só isso. É muito mais do que isso. É um exercício que se realiza sempre que possível. E sempre é possível.

A imagem que enviei para meus amigos questionando sobre o que é caridade traz uma charge onde o ato de dar esmola torna-se um artifício de autopromoção. É claro, todos concordaram que isso não é caridade, afinal uma das principais características da caridade é a ausência de recompensa material. Mas será que dar esmola significa ser caridoso de fato?
Talvez, pode ser. Não digo sim, e também não digo não. Já que esta é uma virtude que nos liga diretamente a Deus, tudo depende da forma como está sua relação com o Pai. Afinal, se estamos falando de ausência de recompensa material, fazer o bem como uma forma de escambo com Deus é jogar sujo. 

Ao realizar um ato de ajuda ao próximo, se questione: estaria eu fazendo isso para receber uma graça? Se a resposta não for satisfatória para você, continue pensando. Continue também realizando estes atos, mas faça-os descompromissadamente.

Só é livre quem se pertence.
Falar de caridade e não falar de Madre Teresa de Calcutá é como fazer uma festa surpresa e não chamar o aniversariante. Não existe exemplo mais simples e próximo de nós do que o testemunho desta mulher.

Ela costumava dizer que o ser humano precisa mais de apreciação do que de pão. Isso não quer dizer que ela deixou de levar o pão aos pobres que beneficiava. Mas muito mais do que isso, ela levou seu coração e respeitou cada um deles como pessoa, dotada de emoções e sentimentos.

Com a franzina mulher de Calcutá, aprendemos que ser caridoso é antes de tudo ser humano.

Que possamos exercitar cada vez mais este contato com o Pai através do irmão.


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Jesus chorou

Jesus chorou. É o que nos diz o capítulo 11 do Evangelho de São João, quando na morte de Lázaro, seu grande amigo. O que podemos aprender com este gesto simples e genuíno de Cristo?

- Homem não chora!
- Esquece isso, bola pra frente!
- Ahh, larga a mão de frescura!
- Para de fazer drama!

Reconhece alguma dessas frases?

Vivemos em um tempo onde é proibido demonstrar fraqueza. Nas redes sociais, as pessoas sorriem o tempo todo. As legendas das fotos trazem versos e trechos de canções belas e românticas. Mas me parece um pouco contraditório. Principalmente quando você conhece algumas dessas pessoas mais intimamente e sabe que a vida dela não é só nuvens de algodão. Aliás, basta olhar para si. Você é um sorriso ambulante? NÃO!

Não te digo isso como quem condena. Muito pelo contrário. Digo como quem quer tirar este véu de fantasia do qual nossa sociedade é coberta hoje.
A aparente felicidade funciona como uma cortina diante de nossos olhos, que como um filtro modifica nossa forma de ver a realidade. Será que temos realmente de ser felizes o tempo todo? Se sua resposta é não, é hora de pensarmos sobre a tristeza.

Viver a tristeza é importante para o ser humano. Se existe um tempo para cada coisa debaixo do céu (Eclesiastes 3), há de ter hora para estar triste. E estar triste não é sinônimo de ser triste.

Se não é possível estar alegre o tempo todo, devemos reconhecer os momentos de tristeza como algo natural. Faz parte da angústia de ser humano, pois somos imperfeitos. E isso não significa estar longe da graça de Deus.

Assim acreditou Marta, dizendo a Jesus: Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido! (ver. 21); mas logo no versículo seguinte, reconhece o erro, dizendo: mas sei também, agora, que tudo que pedires a Deus, Ele o concederá (ver. 22).
E assim foi feito. Lázaro ressuscitou!

Jesus chorou para nos lembrar que, sendo humanos, temos sentimentos, e deixar de vivenciá-los é negar a realidade. Se hoje em dia teimam em dizer que você deve ser forte, lembre-se que chorar não é sinônimo de tristeza.

Apenas é sinal de humanidade.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O amor é exigente




Confira este texto narrado via Soundcloud!



Ahh, o amor...tema que já foi tratado por aqui (confira em O amor é pra mim? e Ágape e outros tipos de amor) algumas vezes, mas nunca me canso de pensar e falar sobre ele. Uma razão para isso? Simples. O amor gera nas pessoas emoções e sentimentos atemporais.

Todo mundo já experimentou de alguma forma, mesmo que através da fantasia, uma dose de amor. E o verdadeiro amor não embriaga, mas traz a lucidez do prazer nas coisas simples e verdadeiras.
Quando falamos de um Deus que é a pura essência do amor, que não é capaz de outra coisa senão amar, e escolhemos por acreditar nisso, nossa vida ganha um sentido todo especial.

Mas o que muitos de nós esquecemos é que o amor é exigente.

O que de fato isso quer dizer? Já pensou nisso?
Exigência. Ação de reclamar ou intentar. Não contentar-se facilmente. Que sempre busca o melhor. Quesitos de vida plena.

Talvez a gente entenda "exigente" como uma coisa ou pessoa chata, arrogante, difícil de engolir. Ao ouvir esta palavra, provavelmente pense na figura do seu chefe ou de um professor da escola ou faculdade, como aquele cara que fica martelando e pressionando pelo resultado.

Mas na realidade, por exigente, devemos compreender em algo que é comprometido, e não envolvido. Amor exigente é amor de quem se doa por inteiro e busca o melhor de si pelo outro.

Como diria Camões, amar é nunca contentar-se de contente.

Observemos esta imagem. Embora frágil, a joaninha é bela. Porém, basta um movimento brusco e ela é esmagada. Tudo o que há de riqueza pode fugir por entre os dedos, literalmente. Ela pode bater as asas e voar, e embora seja tentador colocá-la numa garrafa para admirá-la mais facilmente, sua beleza reside em sua liberdade. Logo, ela não é propriedade de quem a tem nas mãos. Ela somente está sob seu cuidado. Este é o amor exigente.

A exigência reside na responsabilidade. Tomar alguém para você é doentio, logo confundir uma crise de ciúmes com amor é como estar diante da vida real e desperdiçá-la olhando a tela de um celular. A beleza reside na liberdade do ser, e só quem está livre será capaz de respeitar a liberdade do outro, pois só se ama o que se conhece.
Aqui Deus se faz presente. Sendo Ele o verdadeiro amor, exige de nós entrega e comprometimento. Envolver-se com o amor de Deus é como se apaixonar. Mas paixão acaba. O amor, diferente disso, fica. 

A sociedade não precisa de cristãos apaixonados pela fé. Pois nem só de verão o mundo é feito, e as paixões não costumam sobreviver aos frios e rigorosos invernos.

Se alguém lhe perguntar o que é o amor, diga sem medo:

O amor é lindo. Mas exigente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"Desculpa" é pra errar de novo?

Certo dia, enquanto fazia compras no supermercado, presenciei sem querer uma enérgica discussão entre um casal de namorados. Sei lá qual o motivo da briga, mas um deles soltou no calor do momento a seguinte frase: "ahh, desculpa...desculpa é pra errar de novo!!". 

A frase ecoou dentro de mim e por ali ficou por dias. O post de hoje é resultado desta ruminação. Será que realmente quem pede desculpa quer errar de novo? De onde vem a facilidade para pedir desculpa? E a dificuldade em desculpar? Desculpa e perdão, são a mesma coisa?

Vamos caminhar juntos. E me perdoe qualquer coisa.
Vivemos pedindo desculpas, essa é a verdade. O que isso pode significar? Muita coisa. Que passada a emoção e retomando a razão, percebemos que realmente pisamos na bola. Que sentimos algo por uma pessoa e acabamos descontando em outra. Enfim, são infinitas as possibilidades.

Isto ocorre quando somos cientes de nossa imperfeição. E de fato nenhum de nós é perfeito. É exatamente por isso que quando falamos do Sacramento da Reconciliação, quem perdoa nossos pecados é Deus, perfeito, e não a pessoa do padre, imperfeito como nós.
Aqui, começamos a entender que desculpa e perdão não são a mesma coisa. Porque enquanto o pedido de desculpas significa reconhecer e se arrepender por um gesto ou atitude, o perdão vai além. É preciso a decisão pelo fim do erro para se pedir perdão.

A partir desta compreensão, podemos observar duas situações: uma entre nós, seres humanos, e outra entre nós e o Altíssimo.
Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?"
Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete.
(Mateus 18, 21-22)

Entre nós, portanto, a regra é clara: perdoe! Perdoar é reconhecer o erro do próximo e também o próprio erro. Nenhum de nós está livre desta possibilidade, e a melhor forma de convivermos em paz consigo mesmos e com todos aqueles que vivem ao nosso redor é perdoar um ao outro e aprender juntos a vencer o pecado.

Aqui, vale lembrar que 70x7 não diz respeito a uma regra aritmética que acaba em 490. Nossa Bíblia é repleta de símbolos, e o número 7 representa o infinito, a infinitude. Quando Pedro perguntou a Cristo, Ele respondeu que devemos nos perdoar infinitamente.

Pensemos agora em nossa relação com Deus. Enquanto tivermos um pecado como "de estimação" e não nos arrependermos verdadeiramente, não irá existir penitência. Isso não é pedir perdão, é pedir desculpa.

Deus respeita nosso livre arbítrio até neste momento. E cabe a cada um de nós a decisão pela renúncia ao pecado.
Voltando a pergunta do início, podemos responder com outra pergunta. Quando alguém lhe pedir desculpas, busque perceber se ela se sente arrependida pelo ato e não mais pretende repetí-lo. Neste caso, falamos de perdão. Do contrário, se tratam de apenas desculpas mesmo.

Que o Espírito Santo nos dê a sabedoria do perdão e a graça da verdadeira contrição. Perdão, Senhor!