quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Jesus chorou

Jesus chorou. É o que nos diz o capítulo 11 do Evangelho de São João, quando na morte de Lázaro, seu grande amigo. O que podemos aprender com este gesto simples e genuíno de Cristo?

- Homem não chora!
- Esquece isso, bola pra frente!
- Ahh, larga a mão de frescura!
- Para de fazer drama!

Reconhece alguma dessas frases?

Vivemos em um tempo onde é proibido demonstrar fraqueza. Nas redes sociais, as pessoas sorriem o tempo todo. As legendas das fotos trazem versos e trechos de canções belas e românticas. Mas me parece um pouco contraditório. Principalmente quando você conhece algumas dessas pessoas mais intimamente e sabe que a vida dela não é só nuvens de algodão. Aliás, basta olhar para si. Você é um sorriso ambulante? NÃO!

Não te digo isso como quem condena. Muito pelo contrário. Digo como quem quer tirar este véu de fantasia do qual nossa sociedade é coberta hoje.
A aparente felicidade funciona como uma cortina diante de nossos olhos, que como um filtro modifica nossa forma de ver a realidade. Será que temos realmente de ser felizes o tempo todo? Se sua resposta é não, é hora de pensarmos sobre a tristeza.

Viver a tristeza é importante para o ser humano. Se existe um tempo para cada coisa debaixo do céu (Eclesiastes 3), há de ter hora para estar triste. E estar triste não é sinônimo de ser triste.

Se não é possível estar alegre o tempo todo, devemos reconhecer os momentos de tristeza como algo natural. Faz parte da angústia de ser humano, pois somos imperfeitos. E isso não significa estar longe da graça de Deus.

Assim acreditou Marta, dizendo a Jesus: Senhor, se estivesses aqui meu irmão não teria morrido! (ver. 21); mas logo no versículo seguinte, reconhece o erro, dizendo: mas sei também, agora, que tudo que pedires a Deus, Ele o concederá (ver. 22).
E assim foi feito. Lázaro ressuscitou!

Jesus chorou para nos lembrar que, sendo humanos, temos sentimentos, e deixar de vivenciá-los é negar a realidade. Se hoje em dia teimam em dizer que você deve ser forte, lembre-se que chorar não é sinônimo de tristeza.

Apenas é sinal de humanidade.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

O amor é exigente




Confira este texto narrado via Soundcloud!



Ahh, o amor...tema que já foi tratado por aqui (confira em O amor é pra mim? e Ágape e outros tipos de amor) algumas vezes, mas nunca me canso de pensar e falar sobre ele. Uma razão para isso? Simples. O amor gera nas pessoas emoções e sentimentos atemporais.

Todo mundo já experimentou de alguma forma, mesmo que através da fantasia, uma dose de amor. E o verdadeiro amor não embriaga, mas traz a lucidez do prazer nas coisas simples e verdadeiras.
Quando falamos de um Deus que é a pura essência do amor, que não é capaz de outra coisa senão amar, e escolhemos por acreditar nisso, nossa vida ganha um sentido todo especial.

Mas o que muitos de nós esquecemos é que o amor é exigente.

O que de fato isso quer dizer? Já pensou nisso?
Exigência. Ação de reclamar ou intentar. Não contentar-se facilmente. Que sempre busca o melhor. Quesitos de vida plena.

Talvez a gente entenda "exigente" como uma coisa ou pessoa chata, arrogante, difícil de engolir. Ao ouvir esta palavra, provavelmente pense na figura do seu chefe ou de um professor da escola ou faculdade, como aquele cara que fica martelando e pressionando pelo resultado.

Mas na realidade, por exigente, devemos compreender em algo que é comprometido, e não envolvido. Amor exigente é amor de quem se doa por inteiro e busca o melhor de si pelo outro.

Como diria Camões, amar é nunca contentar-se de contente.

Observemos esta imagem. Embora frágil, a joaninha é bela. Porém, basta um movimento brusco e ela é esmagada. Tudo o que há de riqueza pode fugir por entre os dedos, literalmente. Ela pode bater as asas e voar, e embora seja tentador colocá-la numa garrafa para admirá-la mais facilmente, sua beleza reside em sua liberdade. Logo, ela não é propriedade de quem a tem nas mãos. Ela somente está sob seu cuidado. Este é o amor exigente.

A exigência reside na responsabilidade. Tomar alguém para você é doentio, logo confundir uma crise de ciúmes com amor é como estar diante da vida real e desperdiçá-la olhando a tela de um celular. A beleza reside na liberdade do ser, e só quem está livre será capaz de respeitar a liberdade do outro, pois só se ama o que se conhece.
Aqui Deus se faz presente. Sendo Ele o verdadeiro amor, exige de nós entrega e comprometimento. Envolver-se com o amor de Deus é como se apaixonar. Mas paixão acaba. O amor, diferente disso, fica. 

A sociedade não precisa de cristãos apaixonados pela fé. Pois nem só de verão o mundo é feito, e as paixões não costumam sobreviver aos frios e rigorosos invernos.

Se alguém lhe perguntar o que é o amor, diga sem medo:

O amor é lindo. Mas exigente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

"Desculpa" é pra errar de novo?

Certo dia, enquanto fazia compras no supermercado, presenciei sem querer uma enérgica discussão entre um casal de namorados. Sei lá qual o motivo da briga, mas um deles soltou no calor do momento a seguinte frase: "ahh, desculpa...desculpa é pra errar de novo!!". 

A frase ecoou dentro de mim e por ali ficou por dias. O post de hoje é resultado desta ruminação. Será que realmente quem pede desculpa quer errar de novo? De onde vem a facilidade para pedir desculpa? E a dificuldade em desculpar? Desculpa e perdão, são a mesma coisa?

Vamos caminhar juntos. E me perdoe qualquer coisa.
Vivemos pedindo desculpas, essa é a verdade. O que isso pode significar? Muita coisa. Que passada a emoção e retomando a razão, percebemos que realmente pisamos na bola. Que sentimos algo por uma pessoa e acabamos descontando em outra. Enfim, são infinitas as possibilidades.

Isto ocorre quando somos cientes de nossa imperfeição. E de fato nenhum de nós é perfeito. É exatamente por isso que quando falamos do Sacramento da Reconciliação, quem perdoa nossos pecados é Deus, perfeito, e não a pessoa do padre, imperfeito como nós.
Aqui, começamos a entender que desculpa e perdão não são a mesma coisa. Porque enquanto o pedido de desculpas significa reconhecer e se arrepender por um gesto ou atitude, o perdão vai além. É preciso a decisão pelo fim do erro para se pedir perdão.

A partir desta compreensão, podemos observar duas situações: uma entre nós, seres humanos, e outra entre nós e o Altíssimo.
Então Pedro aproximou-se de Jesus e perguntou: "Senhor, quantas vezes deverei perdoar a meu irmão quando ele pecar contra mim? Até sete vezes?"
Jesus respondeu: "Eu digo a você: Não até sete, mas até setenta vezes sete.
(Mateus 18, 21-22)

Entre nós, portanto, a regra é clara: perdoe! Perdoar é reconhecer o erro do próximo e também o próprio erro. Nenhum de nós está livre desta possibilidade, e a melhor forma de convivermos em paz consigo mesmos e com todos aqueles que vivem ao nosso redor é perdoar um ao outro e aprender juntos a vencer o pecado.

Aqui, vale lembrar que 70x7 não diz respeito a uma regra aritmética que acaba em 490. Nossa Bíblia é repleta de símbolos, e o número 7 representa o infinito, a infinitude. Quando Pedro perguntou a Cristo, Ele respondeu que devemos nos perdoar infinitamente.

Pensemos agora em nossa relação com Deus. Enquanto tivermos um pecado como "de estimação" e não nos arrependermos verdadeiramente, não irá existir penitência. Isso não é pedir perdão, é pedir desculpa.

Deus respeita nosso livre arbítrio até neste momento. E cabe a cada um de nós a decisão pela renúncia ao pecado.
Voltando a pergunta do início, podemos responder com outra pergunta. Quando alguém lhe pedir desculpas, busque perceber se ela se sente arrependida pelo ato e não mais pretende repetí-lo. Neste caso, falamos de perdão. Do contrário, se tratam de apenas desculpas mesmo.

Que o Espírito Santo nos dê a sabedoria do perdão e a graça da verdadeira contrição. Perdão, Senhor!