quarta-feira, 1 de abril de 2015

A simplicidade


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Simples. Feito de poucas partes. Sem complicação. Aquilo que não há nada a esconder. Modesto. Claro. Evidente. Natural. Livre de luxo ou ostentação. Fácil de entender.

O mundo onde vivemos é um convite a riqueza. Riqueza de estímulos*, nos impedindo de enxergar os pequenos milagres que acontecem todos os dias diante de nossos olhos. Riqueza de objetos, que nos personalizam de forma que acreditamos ter uma identidade própria, porém nos fazem apenas mais do mesmo, estampando marcas e ideias como verdadeiros outdoors ambulantes. Riqueza de tarefas, nos deixando a sensação de que nunca daremos conta e 24 horas por dia não valem de nada, bom mesmo seriam umas cinquenta. Mas ao contrário, faltam sonhos, faltam olhares sinceros e sobra o sentimento de vazio ao final de cada dia.

Por onde anda a simplicidade da vida? Nos perdemos no meio do caminho? Como aprender a ter prazer pelas coisas simples da vida? Este é um convite ao retorno às origens.

(Imagem: chuvadepalavras.spaceblog.com.br)

Quando falo em uma volta às origens, me refiro ao começo de tudo, nossos primeiros dias de vida. Não comparemos a vida de um adulto com a vida de um bebê, afinal, a quantidade de tarefas e estímulos* é incomparável. Mas peço que observemos a forma como os bebês apreciam o mundo.

Após vários meses dentro da barriga da mãe, onde havia pouco além de ruídos desconhecidos e escuridão, o bebê se impressiona com o mundo aqui fora. O mundo é belo, afinal tudo é novo. A pele da mãe, o rosto do pai, os brinquedos coloridos, o sabor do leite materno, tudo apreciado com a certeza de que o mundo é belo por si só.

(Imagem: pensamentosbrilhantes.blogspot.com.br)

Não é à toa que as coisas mudam com o passar do tempo. Nosso cérebro é construído de forma a se adaptar a realidade, poupando energia ao depararmos com estímulos* conhecidos. Reagir com intensidade aos mesmos fatos do cotidiano nos deixaria cansados e não nos abriria ao novo, o que não seria positivo.

Isso explica como o tempo cura feridas como a morte de uma pessoa próxima, por exemplo. O estímulo* é o mesmo, mas vivido com menor intensidade. O luto é exatamente este processo de adaptação a nova realidade que a vida nos impõe.



Não ver o simples é, portanto, compreensível. Mas não podemos negar como tudo isso continua dentro de nós. Tudo o que queremos nos dias de folga e feriados é uma rede preguiçosa pra deitar, não é mesmo?

Mas nem só de feriados vive o homem. Passamos a maior parte do dia entre obrigações e cobranças. Entre a falta de tempo e a necessidade de dar conta de tudo, o simples desce pelo ralo.

Em momentos como esse a natureza costuma jogar ao nosso favor. Não existe lugar onde ela não alcance. O desenho das nuvens, os pássaros que visitam nossos quintais e cantam em nossos telhados, a chuva que cai mesmo sem avisar, a sombra das árvores, a pureza de espírito de nossos animais de estimação. Estes são só alguns exemplos de como o simples está diante de nossos olhos diariamente. Mas não basta ver, é preciso enxergar. Pequenas pausas no dia entre uma tarefa e outra e pronto, tudo isso estará a nosso alcance.


Pessoalmente falando, admiro demais a simplicidade dos pássaros. Desde criança me impressionava como penas tão leves e frágeis poderiam juntas servir tão bem. E quanto a vida dos pássaros, quanta simpicidade! Nascem completamente dependentes dos pais, mas ao aprenderem a voar, tornam-se autênticos e independentes. Quando chega a época da procriação constroem ninhos com coisas que a natureza dá e não damos valor, como ramos, folhas e galhos. E quando os filhotes nascem, permanecem vigilantes, sem nunca deixar de cantar em agradecimento pelo que possuem.

Sem dúvida Jesus tem muito a nos ensinar a esse respeito, mas reservei outro texto para falar Dele. Não deixe de conferir aqui!

Que possamos aprender com os bebês e os pássaros a se encantar de novo pelas coisas simples da vida!







* por estímulos, quero dizer os estímulos sensoriais, ou seja, tudo aquilo que conhecemos e sentimos através dos cinco sentidos (visão, audição, paladar, tato e olfato).



Adendo: algumas horas após a publicação deste post, estava andando de moto quando esta borboleta entrou no meu capacete. Pensei que ela havia morrido, mas quando tirei o capacete, ela saiu voando e pousou na minha cama, ficando por ali por várias horas. Alguém quer me falar algo sobre simplicidade! :)

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