quinta-feira, 19 de março de 2015

O brilho no olhar


#4 - Por que devemos ter amor próprio?




Amor próprio. É inegável que devemos nos amar. Afinal, somos a prova viva do amor de Deus por nós, que nos fez Sua imagem e semelhança. Mas é também inegável que o egoísmo e a vaidade são grandes obstáculos no caminho de amar a si mesmo. Então, como não cair na tentação de se tornar o centro do mundo? Nasci sabendo ou devo aprender a me amar? Jesus se amou? Venha, pois hoje é dia de resgatar o brilho no olhar.


Convidei meus amigos a pensarem sobre o amor próprio por um motivo simples. Diante da situação de incerteza política e falta de crença no futuro onde vivemos, acredito que o começo de qualquer mudança está em cada um de nós. Se acreditamos que não é possível amar o próximo sem nos amarmos primeiro, dar um passo além significa amar-se de verdade, sem medo de cair na armadilha do egoísmo.

Vamos então entender o que é o egoísmo. A começar pela própria palavra, onde além do "ego-", o eu mesmo, temos o "-ismo", que pode representar uma forma de religião (catolicismo), uma ideologia (anarquismo), um sistema político (capitalismo) ou mesmo uma doença (alcoolismo). E aqui entendemos tudo o que o egoísmo pode vir a ser.


  • Religião do eu: somos o próprio Deus, onipresente, onipotente, tudo sei, tudo sou. Nada tenho a aprender com você, afinal, sou tudo que há de melhor. O que há de melhor a fazer por mim é me idolatrar;
  • Ideologia do eu: não importa o que seja, no final, tudo se volta para mim.
  • Política do eu: a situação do meu vizinho pouco me importa, afinal cada um tem o que merece. O problema é do prefeito, do governador, do presidente, e não meu.


Cada um desses pensamentos acabam por se tornar uma "doença do eu", pela incapacidade de ver além do próprio umbigo. E não há dúvidas que isso é tudo que Deus não espera de nós.


O amor ágape de Deus é um amor sempre voltado para o bem do próximo. E quando o próximo mais próximo somos nós mesmos, isso ganha um novo sentido. É impossível dar aquilo que não temos, portanto, viver o amor de Deus dentro de nós é tarefa obrigatória pra quem pretende amar o irmão.

Somos convidados diariamente a cultuar o próprio corpo, tornarmos verdadeiras máquinas. Mas tudo o que Deus espera de nós é que nos reconheçamos como sacrário vivo do seu amor. Quando pudermos vê-Lo dentro de nós, estaremos aptos para refletí-Lo a cada um que por nós passar. E isso é um processo, que dia após dia vai nos aproximando do Pai.

E aqui chego ao brilho no olhar, citado no início. Na minha opinião, a característica principal de quem se ama é este brilho no olhar. Brilho este que muitas vezes fogem do nosso entendimento. Quem nunca conheceu alguém com esse brilho?

Eu conheci Jesus.

quarta-feira, 11 de março de 2015

(Sobre vencer) as provações

Nada faz tanta parte da vida do cristão quanto as provações. Basta fazer a escolha por seguir o caminho de Cristo e os acontecimentos da vida ganham novos contornos. Ao mesmo tempo que vemos a graça de Deus diante de nossos olhos, não faltam situações que nos convidem para a queda.

Como lidar com as provações? Provação e tentação são a mesma coisa? Se o Amor de Deus é infinito, porque Ele permite que eu passe por tudo isso? Vamos caminhar juntos. E desta, te convido a uma caminhada no deserto.


O deserto era um dos símbolos favoritos daqueles que escreveram a Bíblia que lemos. E não a toa, afinal a ideia de um local inóspito onde tudo parece fugir de nosso alcance é bem compreendida por todos. Inclusive aqueles que nunca tiveram um encontro com Cristo.

A diferença entre estes e nós é a fé em um final feliz, que reside na confiança e na certeza de que há um Pai que nos espera de braços abertos. Essa certeza é libertadora, sem dúvida, mas não nos liberta das provações. Por quê?


Pra começo de conversa, é importante diferenciar tentação e provação. Pois eles não são a mesma coisa, embora muitas vezes pareça.

A tentação tem como único objetivo a nossa queda, afastar-nos da graça de Deus. Como exemplo prático, temos a cobra do Paraíso em Gênesis 3, que tentou Eva a comer a maçã e assim introduziu o pecado na história. São ações que tem como origem o inimigo.

A provação é diferente, pois ela nos proporciona a oportunidade de crescer na fé em Deus. Ela nos edifica de alguma forma. A partir do momento em que fazemos a escolha consciente por vencê-la, a misericórdia de Deus age em nós. E essa decisão é de extrema importância, pois o Amor do Pai não é intrometido e sempre respeita nosso livre arbítrio.

(fonte: blog.cancaonova.com)

Podemos por algum momento nos perguntar: "mas por que Deus permite tudo isso?". Esse questionamento já bateu pra todo cristão, e entendê-lo é um passo importante. Aqui, recorro à Epístola de São Tiago, que nos ensina:

"Ninguém, quando for tentado, diga: É Deus quem me tenta. Deus é inacessível ao mal e não tenta a ninguém. Cada um é tentado pela sua própria concupiscência, que o atrai e alicia. A concupiscência, depois de conceber, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte."
(Tg 1, 13-15)

Somos humanos, dotados de desejos. O equilíbrio das próprias vontades é parte essencial da vida do cristão. Sem isso, somos como a onda do mar, levantada pelo vento e agitada de um lado para o outro (Tg 1, 6).


Se o pecado nos aprisiona, vencê-lo produz a fé, a paciência e a sabedoria. Se a vida é feita de desafios e dividida entre sucessos e fracassos, que possamos fazer a escolha pela vitória em Cristo.

E para os momentos de sofrimento, quando o deserto da vida parecer um obstáculo intransponível, leia Tiago 1, 2-18. Foi este o texto que me deu a direção para este texto e para várias situações de minha vida. E o que é bom vem de Deus.


sábado, 7 de março de 2015

Humanizar o ser




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Caminhamos em uma direção caótica. A corrupção e a violência estão diariamente estampados nos noticiários. Nas redes sociais, a comoção contra a nossa situação política beira a insanidade. Nas ruas, vemos as pessoas se esbarrando uma nas outras devido o olhar fixo nas telas dos smartphones. E ao final do dia, nada resta além de uma sensação de desamparo.

Se existe algum remédio para isso, está em ser humano. Não seria correto dizer "no" ser humano? Sim. Mas não sejamos tão simples assim.


A imagem acima nos apresenta dois seres humanos. E isso é óbvio. O que a torna tão óbvia? O fato de representar uma relação humana. E aqui fazemos uma observação: afinal, o que nos diferencia dos animais? Somos iguais em muita coisa. Inclusive em sermos todos obras do Criador, que é Deus.

A principal diferença está no fato de nós, humanos, sermos dotados de consciência. Diferente dos animais que vivem de acordo pelo instinto apenas, nós temos a decisão do caminho a tomar em nossas mãos, e fazemos isso de acordo com aquilo que acreditamos. Mas existe também uma diferença bastante importante: nós não nascemos prontos.


Nesta tarefa livros são importantes, mas não são tudo. Já parou pra pensar que você já sabia muita coisa quando chegou pela primeira vez numa sala de aula? Andar e falar, por exemplo.

Desde a primeira infância, aprendemos principalmente através da observação e da repetição. Seguindo o exemplo dado, após várias e várias vezes vendo como os adultos ao seu redor andavam e falavam, a criança foi conhecendo o próprio corpo e se tornou capaz de realizar o mesmo.


O que quero dizer com essa curta aula de Psicologia? Que, não nascendo prontos, nós somos construídos através das relações humanas. É impossível tornar-se humano no isolamento. É preciso "aprender" com o outro.

Ao contrário dos animais que vivem em grupos por questões de segurança e para perpetuar a espécie, viver em comunidade é uma tendência natural do homem. Uma necessidade intrínseca ao ser. E isso acontece porque além de possuirmos consciência, somos dotados de afeto. E eis aqui o ponto chave desta reflexão.


Antes de criar o homem, Deus criou tudo o mais que existe. E a razão reside no fato de que este "tudo o mais" foi feito para o homem. Ao nos criar sua Imagem e Semelhança, o Pai nos criou para aspirarmos o perfeito, buscamos o infinito. E se a educação se dá pelo exemplo, como vimos acima, eis a razão para a vinda de Cristo entre nós.


Sim, Ele veio para vencer a morte e o pecado. Mas além disso, Ele veio para servir-nos de exemplo, para nos apontar a direção. Como duvidar disso, sendo que Ele mesmo disse que é o caminho, a verdade e a vida, e ninguém vai ao Pai senão por Ele (João 14, 6)?



Jesus, assim como nós, estava no plano da criação do mundo por Deus. E se hoje vivemos em um mundo tão caótico, entendo que isso acontece a partir do momento em que não temos um exemplo a seguir. Como julgar alguém que não conhece o amor? Como apontar o dedo para quem nunca teve de quem aprender?

Palavras são fortes, mas muito mais dizem as palavras não ditas. Não há dúvida que de nada educa melhor do que um bom exemplo. E nossa missão como cristãos é servir de exemplo para aqueles ainda não conheceram o amor de Deus.

Assim disse São Francisco de Assis: anuncie o Evangelho, e se preciso for, use palavras. Eis aqui a receita. Humanizar é servir de exemplo.




terça-feira, 3 de março de 2015

A autenticidade


#3 - O que torna uma pessoa notável?


Notável. Aquilo que é digno de nota. Ilustre, extraordinário, considerável. Pessoa ou coisa que ocupa elevação social. Fora do comum.

E aqui estamos nós com mais um questionamento. Afinal, o que torna uma pessoa notável? O que cada um entende por notável? Seria algo comum a todos, ou isso muda de pessoa pra pessoa? Encontramos pessoas notáveis na Bíblia? Venham, pois é hora de conhecer um pouco mais sobre Jesus e sobre cada um de nós.


Sendo este um texto interativo, contei com a participação de vários amigos respondendo a questão acima. Uma pergunta ambígua como essa permite uma série de respostas bem diferentes. Alguns, olham para o físico. Outras pessoas olham para a personalidade. Outras ainda buscam analisar a subjetividade e a transcendência. Muitos observam o comportamento e as atitudes. Mas para minha surpresa, muitos mostraram opiniões similares a minha, de que ser notável é sinônimo de ser autêntico.

Costumo dizer que ser autêntico é exercer a liberdade e se conhecer a ponto de ser você mesmo. Se as roupas que usamos, as músicas que ouvimos e os ambientes que convivemos nos uniformizam de alguma forma, nos tornando todos iguais, a autoconhecimento nos leva a identificar aquilo que é próprio de cada um, aquilo que está em nossa essência, o que com certeza nos torna diferentes. Assim fomos criados por Deus, como seres únicos.


Assim como não existem duas pessoas com a mesma impressão digital, trazemos na nossa individualidade características capazes de nos destacar na multidão. E isso é fato. Todos nós carregamos esse "Q" a mais dentro de si. E conhecê-lo é necessário para tornar-se alguém notável.

É claro, tudo existe para o bem e para o mal. Muitas pessoas usam suas melhores qualidades de forma errada. Como cristãos, isso significa não levar aqueles que estão ao seu redor ao bom caminho, que é Jesus Cristo. Edificar o Reino de Deus é parte de nossa missão, e isso não deve ser esquecido ou relevado, como se acontecesse com naturalidade ou por fluidez. Como já conversamos antes aqui, nossa vaidade pode nos levar a edificar apenas o próprio interesse. E não é isso que buscamos, não é mesmo?


Jesus era notável? Sem dúvida! Podemos dizer que Ele foi o mais notável da história. E poderíamos nos conter ao fato de que sendo Deus, e sendo assim perfeito, era imbatível, inabalável. Mas indo um pouco além, te convido a olhar para Jesus como um homem, de carne e osso, como cada um de nós.

A vida pública de Cristo citada no Novo Testamento corresponde a apenas três anos de sua vida, o que significa que houveram outros 30 anos dos quais pouco sabemos. Algo me faz acreditar que foi esse o tempo onde pode se conhecer, como verdadeiro Deus e verdadeiro homem, se tornando autêntico.

Ele era humilde, na real acepção da palavra. Alguém que sabia exatamente o seu lugar no mundo, não sendo mais e nem menos. Carregando um brilho no olhar. E sendo capaz de trazer o que havia de melhor de cada um que cruzava o seu caminho.


Eis aqui o "Q" a mais das pessoas notáveis: trazer a tona o que há de melhor no próximo. E eis aqui também um desafio grande para nós. Pois, em muitos momentos, já é bem difícil ser nós mesmos...e aqui, talvez nos encontramos a beira do caminho. Hoje, te convido a dar um passo a frente, junto de mim.

Que possamos trazer no peito a coragem de ser quem nós somos de fato, e aprendamos com aquele que É o significado de tornar-se alguém digno de nota.




segunda-feira, 2 de março de 2015

Lectio divina #2 - Renunciar a carne


Renunciar a carne (Rm 8, 1-13)

É preciso morrer para a carne
pois aqui estou de passagem
pois quando morrer, nada daqui levarei.

E aqueles que ficarão, o que de mim terão?
Nada além de Ti, Senhor,
e daquilo que em Ti permanece.

Não posso ser escravo da carne, Senhor,
e permitir que ela me afaste de Ti,
afinal, ela foi criada para servir a seu plano
e no seu plano encontrar a Tua paz.

É preciso tomar paixão pela vida
e espiritualizar aquilo que me rodeia,
para que eu desapareça
e Tu cresças, mais e mais,
e Teu Espírito, que é Vida
santifique meu viver!

Amém!