sábado, 26 de março de 2016

Amanheceu


Amanheceu,
mas não era uma manhã comum.
No coração de quem havia Amor,
uma chama ardia
como que por provocação
e dizia:

Vai!
Por que desistir agora?
Não lhe parece o ideal acreditar
enquanto não chegar o final?

Vai!
Nem tudo é o que parece!
Se não és ainda feliz,
mantenha-me acesa
dentro de ti.

Vai!
Corre atrás daquilo
que te parece o certo
pois o que é bom sempre vence.

A manhã era Páscoa.
A chama era esperança.
E o coração, era seu?
Pois um dia já foi o meu.

Hoje, posso dizer sem medo,
que Jesus ressuscitou
e caminha ao seu lado
na espera de quem não tem pressa
por saber que o Amor jamais apaga.


Feliz Páscoa!

quarta-feira, 23 de março de 2016

O amor fecundo

Antes que possa parecer, uma advertência: Não, este post não é uma caça aos coelhos da Páscoa!!

Meu pensamento sobre o animal é semelhante ao pensamento que apresentei alguns dias antes do Natal, a respeito do Papai Noel, como pode conferir aqui. O "bom velhinho" não tem nada de mal em si, mas o que o circunda.

Se devemos conhecer a nossa fé, e devemos, fica aqui a pergunta, ansiosa por ser respondida: por que um coelho??
Se já teve contato com um coelho alguma vez, sabe o quanto esse animal é fértil. Tem uma enorme facilidade para procriar e fecundar. Foi por ser símbolo de fecundidade que foi relacionado ao período da Páscoa.

Mas, se é relacionado ao nascimento, porque na Páscoa quando Cristo morre e ressuscita, e não no Natal, quando Cristo nasce de fato??

Para compreender, vamos voltar um pouco em relação a Paixão, quando chegamos na Santa Ceia.
Durante a refeição, Jesus tomou o pão e, depois de o benzer, partiu-o e deu-lho, dizendo: Tomai, isto é o meu corpo. Em seguida, tomou o cálice, deu graças e apresentou-lho, e todos dele beberam. E disse-lhes: Isto é o meu sangue, o sangue da aliança, que é derramado por muitos.
(Marcos 14, 22-24)

Em seguida, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha com que estava cingido. Depois de lhes lavar os pés e tomar as suas vestes, sentou-se novamente à mesa e perguntou-lhes: Sabeis o que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, porque eu o sou. Logo, se eu, vosso Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar-vos os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, assim façais também vós.
(João 13, 5. 12-15)

Jesus nos ensinou momentos antes de sua morte como deveríamos cuidar uns dos outros. Os discípulos nada entenderam, é claro, pois não sabiam pelo que havia de vir. Embora conhecessem as Escrituras, ficaram confusos.

Assim nos sentimos nós também, em diversos momentos da vida. Enquanto a história não se traduz na vida, temos a triste sensação de impotência, frágeis que somos.

Mas Cristo não parou por aí.
Se guardardes os meus mandamentos, sereis constantes no meu amor, como também eu guardei os mandamentos de meu Pai e persisto no seu amor. Disse-vos essas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa. Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, como eu vos amo. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.
(João 15, 10-13)

Aqui, Jesus foi além. Deu-nos o mandamento do amor com um verbo imperativo. Amai! Amem! Leve amor por onde for! Sede fecundos no amor! A fecundidade não é algo guardado apenas aos casais abençoados pelo Sacramento do Matrimônio. Não!

Ser fecundo no amor é levá-lo por onde for. É por isso que o coelho está ligado à Páscoa, pois a partir da Eucaristia, somos revestidos e transformados no Amor de Deus através do Corpo e Sangue de Cristo.
Lindo, não é??

E por que complicamos tanto ensinando a nossas crianças que um animal mamífero bota ovos de chocolate?

Parece que perdemos mais esta batalha para o consumismo!

Mas sejamos francos, nada disso importa quando apresentamos aos pequenos a história da morte e ressurreição de Cristo em uma linguagem da qual elas conheçam perfeitamente. Que tal apresentar Jesus como um herói?
Ele não tinha super poderes, mas é certo que seu maior poder era ser humano, o que representa muito em tempos tão desumanizados como os nossos. Por que não aprender com Seu amor? Por que não aprender com as crianças, que trazem isso tão naturalmente com elas?

Termino com mais perguntas do que respostas, sem a sensação de ter falhado em minha missão. Afinal, amar como Jesus amou é uma tarefa que deve ser aprendida a cada dia. E como dizia Aristóteles, a dúvida é o primeiro passo da sabedoria.

Que Cristo ressuscite em nossos corações e nos ensine mais uma vez a amar como Ele nos ama. Sede fecundos e multiplicai o Amor!

quarta-feira, 16 de março de 2016

O livre arbítrio




Confira este texto narrado via Soundcloud!




"O Senhor Deus tomou o homem e colocou-o no jardim do Éden para cultivá-lo e guardá-lo. Deu-lhe este preceito: "Podes comer do fruto de todas as árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore da ciência do bem e do mal; porque no dia em que dele comeres, morrerás indubitavelmente."

(Gênesis 2, 15-17)

Assim diz a Bíblia. Deus criou o mundo, criou o homem, viu que tudo era bom e confiou-lhe o cuidado da Terra. Advertiu, mas não proibiu o homem de comer o fruto. O fruto ganhou fama de "proibido", mas foi um homem quem lhe deu este status, e não Deus.

O que isso significa? Que desde a criação, somos dotados do livre arbítrio. O que faz toda a diferença, do princípio ao fim de nossas vidas.

Já parou para pensar nisso?

Quando tempos atrás escrevi sobre A natureza e a liberdade, ficou em mim um gostinho de quero mais. Havia algo mais a dizer. E esse algo mais veio ecoando dentro de mim desde então.

Dias depois, li uma frase que dizia: "Deus é tão generoso que nos dá a liberdade de plantar o que quiser; mas é também tão justo que colhemos exatamente o que plantamos". Uau, é isso mesmo!

Deus nos criou livres. E essa certeza costuma ser envolta de romantismo, dando a ideia de que podemos fazer o que bem entender. E é verdade. Mas não sejamos tão simples assim! Afinal, Deus é simples, mas também justo.

Ainda assim, continuava ecoando em mim a tal ideia. Será que somos capazes de compreender isso?
Se fazemos uma busca rápida por imagens relacionadas a liberdade, vemos humanos dividindo espaço com animais em belas paisagens. Mas, espere um minuto...Será que os cães tem liberdade para serem o que quiserem? Se um dia acordarem decidindo ser gatos por um dia, isso pode?

Respondemos tranquilamente que não! E quanto a nós? Somos livres a ponto de poder escolher nosso presente e futuro?

SIIIM!! E aqui, começamos a entender que o livre arbítrio implica em nós uma certa responsabilidade. Por isso fomos escolhidos para cuidar de tudo que há aqui e para nós foi criado. Quando escolhemos por algo, necessariamente deixamos de escolher outro algo, e aí somos responsáveis pelo bem e pelo mal das opções realizadas e negadas.
Nossa vida é, portanto, uma sucessão de cruzamentos. A cada escolha, uma renúncia. E quando Deus coloca entre as opções Seu plano de Amor por cada um de nós, não nos obriga a entrar nos trilhos, mas nos convida.

O ser humano é, por essência, livre para ser. É na liberdade que reside a beleza da existência. E se o Pai não pode nos obrigar, tirando de nós aquilo que O próprio colocou em nossos corações, ele preenche o caminho de flores, esperando ansiosamente que sejamos encantados por Seu perfume.
Assim fez com Maria. Embora tenha criado o plano perfeito de por meio dela salvar o mundo, Deus esperou da jovem seu Fiat, faça-se para concretizar a salvação do mundo e a vitória sobre o pecado.


No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria. Entrando, o anjo disse-lhe: Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo. Perturbou-se ela com estas palavras e pôs-se a pensar no que significaria semelhante saudação. O anjo disse-lhe: Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. Maria perguntou ao anjo: Como se fará isso, pois não conheço homem? Respondeu-lhe o anjo: O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus. Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril, porque a Deus nenhuma coisa é impossível.
(Lucas 1, 26-37)


Ao receber a visita do anjo Gabriel, Maria questionou, raciocinou e aceitou a vontade do Pai. Quanta alegria na beleza de escolher pelos planos de Deus!!

Quando Deus nos criou livres, deixou em nós a possibilidade de sermos responsáveis por nossa própria felicidade. E quem como Ele para ser a resposta para nossas perguntas?

Que tenhamos a coragem de escolher pela paz e pelo bem.

terça-feira, 1 de março de 2016

[REPOST] A natureza e a liberdade


Olá, pessoal!

Abri aqui uma sessão de reposts por um motivo bastante importante: temos novos seguidores a cada dia e muitos não tiveram acesso a textos que embora escritos há algum tempo, permanecem atuais.

Abro esta sessão postando novamente meu texto A natureza e a liberdade, postado em janeiro de 2015, que tem forte relação com a Campanha da Fraternidade Ecumênica deste ano, que discute a respeito do cuidado com a Casa Comum.

Boa leitura e reflexão a todos!








No princípio, Deus criou o céu e a terra. E a natureza. Foram dias e dias cuidando de cada detalhe cuidadosamente para a chegada do homem e da mulher. E quando olhamos ao nosso redor nos dias de hoje, tudo o que vemos são prédios e asfalto. Vivemos uma crise com a falta de água que a pouco tempo atrás nos parecia mais uma obra ficção científica. E hoje isso se tornou real. É certo de que houve um erro no meio do caminho. Pois então, onde erramos?


Já ouvi muita gente dizendo coisas do tipo:
- Se Deus é bom, porque Ele permite que fiquemos sem água?
- Mas Deus não é perfeito? Por que precisamos sofrer tanto?
- E esse calor? São Pedro tirou férias?...entre tantas outras. Olhar nossa situação como quem olha para o escuro não me parece o ideal. Tudo o que acontece hoje é consequência de atitudes e escolhas feitas por pessoas anteriores a nós. E essas pessoas podem ter vivido a 200 anos. 100 anos. 20 anos. Quem sabe? Isso pouco importa, na real. O ideal é que olhemos para frente buscando a melhor forma de contornar tudo isso.

Não tenho dúvidas de que a natureza foi o maior bem confiado a nós por Deus. Talvez o mais próximo que podemos chegar do Jardim do Éden (antes do nosso retorno ao céu, é claro) seja através de momentos de contato direto com a natureza. E isso é facilmente compreensível quando pegamos horas e horas de congestionamento por algumas horas diante do mar, ou fugimos para as montanhas onde nossos smartphones perdem o sinal e nos dão alguns dias "de paz". A sensação de paraíso é instantânea. E passageira.


No princípio, Deus criou o céu e a terra. Criou os animais, as plantas, e tudo o mais que chamamos de natureza. E então criou o homem e a mulher, e confiou a eles tudo o que havia criado. Seu Amor foi tao grande que Ele concedeu também ao homem o livre arbítrio. O que isso significa? Liberdade! Liberdade? Isso pode representar um problema para quem não sabe como lidar com ela. E aí? Deus manteve sua decisão. E assim se fez.


Não precisamos dar um contorno de ação e suspense à história da criação, afinal, não estamos em Hollywood. Aqui, na vida real, nos cabe entender o que significa o livre arbítrio concedido por Deus a nós. Sim, ele significa liberdade. Mas liberdade requer uma boa dose de responsabilidade, pois do contrário, teremos um desastre. Como este, que vivemos com relação a falta de água.

Cuidar da natureza, que é nosso maior presente, é assumir a responsabilidade pelo mundo onde vivemos. Responsabilidade esta que estamos tão acostumados a terceirizar, e por isso não nos sentimos culpados pela destruição da natureza. O que mais podemos esperar de um cristão comprometido senão um simples ato de consciência.

Aqui, não falo simplesmente de falta de água. Mas de liberdade que não se confunde com inconsequência. O livre arbítrio é um bem particular. E cabe a nós torná-lo também um bem comum.