domingo, 28 de junho de 2015

Não julgueis

Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
(Mateus 7, 1-5)

Este é o trecho de uma pregação de Cristo, que se inicia lá no capítulo 5 do Evangelho de São Mateus, quando Ele se coloca a falar sobre as bem-aventuranças. Jesus era manso e humilde de coração, é verdade, mas também sabia usar de palavras e atitudes mais severas quando assim entendia que o deveria fazer. Todos nós nos lembramos do episódio no Templo, não é (veja em Mt 21, 12)?

Tudo isso por um simples motivo. Jesus acima de tudo era sábio. E Ele sabia que em certas situações da vida não se pode dar margem para o erro e para as interpretações. Por isso, ele foi enfático e disse com todas as letras: não julgueis.

O que podemos nós aprender com estas palavras? Como viver este mandamento? Caminhemos por uma vida mais cristã.
A frase acima é Jung, psicólogo suiço, seguidor de Freud. Frase igualmente enfática. E talvez um pouco mais provocadora. Eu, quando entro em contato com essa frase, penso, e logo caminho por uma estrada menos "afiada", digamos.

Sem dúvida, pensar é difícil. Mas entendo que ninguém julga de sacanagem. Jung também não, o que o levou a criar a abordagem analítica da psicoterapia, assunto que não irei tratar agora, pois nosso foco é outro.

Como dizia, ninguém julga de sacanagem. Fazemos isso o tempo todo, querendo ou não. E a razão para isso está associada a dois fatores: um é natural ao ser humano, e outro é resultado do mundo onde vivemos hoje.
O primeiro fator, aquele natural à espécie humana, é de que compreendemos o mundo a partir do nosso olhar. E esta forma de ver o mundo é construída segundo uma construção subjetiva e pessoal. Cada momento de nossa vida constrói aquilo que somos hoje. E se não existe duas pessoas iguais, logo não existem dois olhares iguais.

Somos rodeados por diferentes olhares de uma mesma realidade. É natural que nos aproximemos daqueles mais parecidos com os nossos, mas e quando nos deparamos com olhares radicalmente diferentes?

Primeiro, não compreendemos. E o ser humano, quando diante de uma realidade grande demais para o seu campo de visão, tenta reduzir de forma que esta realidade "caiba" dentro de sua percepção. E aí temos um problema.

Nesse momento, trava-se uma luta para ver quem cabe dentro do mundo de quem. Como não julgar o outro nesse processo? Difícil, não é? Sim, eu compreendo. E aqui, as palavras de Jesus fazem todo sentido quando advertem que: Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? (ver. 4)

O segundo fator é resultado do mundo corrido e egoísta que vivenciamos hoje: a falta de empatia (irei dedicar um texto especial para falar sobre isso, aguardem!!)

Sobre o hábito de julgar, a receita é o perdão. Que mais podemos fazer além de reconhecer que somos todos imperfeitos? Se errar é humano, o perdão é direito de todos, filhos e filhas do Pai. E dar o perdão é um dever de todo o cristão.

Só Deus pode nos julgar, pois só Ele é dotado de infinita misericórdia. Feliz daquele que toma posse dessa verdade.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

Razão e emoção


#5 - Existe equilíbrio entre razão e emoção?


Razão e emoção. Duas forças igualmente poderosas. Duas potências de agir que nos provocam a cada momento, a cada importante decisão, ou até mesmo nas escolhas mais corriqueiras da vida.

A metáfora da imagem nos convida ao equilíbrio perfeito entre elas. Mas...será isso mesmo possível? Se alguém tem que ceder...quem seria? Onde o autoconhecimento e a espiritualidade interferem nesta disputa?

Vamos para mais um post interativo!!


Após uma breve pesquisa com alguns amigos sobre existir um lado vencedor, o resultado foi assustadoramente igual: houve empate! Alguns acreditam que a razão ganha, outros que a emoção leva, outros ainda que o equilíbrio seja possível e objeto do melhor desejo. Tudo isso nos leva a tomar algumas conclusões.

A primeira de todas é que, independente de qual lado esteja, qualquer um que fizer a escolha por um dos extremos terá a sensação de estar fadado ao fracasso. O que não é de todo verdade, mas também não é de todo mentira.
Tomemos como exemplo o "100% emoção". Acreditar que tudo o que existe ao seu redor é amor e paz não costuma ajudar a resolver os problemas que aparecem. Ao receber o pedido de um favor por parte de alguém a quem considera muito, dizer "não" pode se tornar um sacrifício intolerável. E a sensação de estar sendo sempre passado para trás pode fazer parte de seu cotidiano. Faz sentido?

Pensemos agora naquele que é "100% razão". Qualquer fato que não possa ser traduzido em números perde o sabor e o sentido. O controle obsessivo é a receita perfeita na tentativa de criar um mundo perfeito, que não existe. E como a raiva não cabe dentro de seu organograma fantástico, apelar para a razão torna-se demonstração de fraqueza. Ser um robô se torna obsessão e motivo de orgulho. Será mesmo?
O começo da resposta de nossa pergunta está a partir de dentro de cada um de nós. E desta vez, não falo do coração.

O cérebro, a máquina mais perfeita, aquela que nenhum homem foi capaz de criar. O cérebro, onde razão e emoção vivem juntos harmoniosamente. Ao lado esquerdo, o raciocínio lógico; ao lado direito, as paixões e amores. É preciso evidência maior de que devemos caminhar com os dois lados em harmonia?

E isso se torna possível quando mudamos nosso paradigma. Voltemos a metáfora do equilibrista.
Quando falamos de equilíbrio, pressupomos algo estático. É como se a razão e a emoção fossem forças constantes, iguais a todo momento. Mas todos nós sabemos que as coisas não funcionam assim. Há momentos onde um sobe e outro desce, e vice-versa, e vice-versa, e vice-versa...

Isso acontece por uma razão simples: a vida é dinâmica. E quando buscamos de alguma forma que estas forças que estão em constante movimento estejam de alguma forma se relacionando bem uma com a outra, falamos de equilibração, e não de equilíbrio. O processo é constante. É preciso estar o tempo todo ligado, senão...um abraço.
E quando pensamos em nossa relação com as coisas do céu? Um equilíbrio dinâmico de nossas escolhas e sentimentos nos ajudam a ter uma conexão maior com Deus? Certamente! Afinal, não faltam momentos onde tudo pede um pouco mais de calma, inclusive para termos condições de entrar em contato com Deus.

O Espírito Santo age naqueles que se mostram em equilíbrio entre corpo, alma e coração. E se não existe fórmula que nos leve a alcançar este estado de graça num piscar de olhos, a vida de oração pedindo ao Espírito, em prece, por sabedoria e serenidade, nos mostram uma luz segura a seguir.

Pedi, e vos será concedido. (Mateus 7,7)

Espero de todo o coração que você possa ter sucesso nessa empreitada. Fácil? Não, nada que realmente valha a pena é fácil. Mas aqui lhe faço um convite. Eu vou tentar. E na graça de Deus, conseguir.