sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A tolerância


Seu Saraiva. O supra-sumo da intolerância. Assim Francisco Milani deu vida ao personagem mal humorado que nos divertia aos sábados a partir da observação de situações do cotidiano. Todos temos um saraivinha dentro do nós, o que podemos comprovar pelo sucesso do personagem. Em muitos momentos somos verdadeiros juízes da vida alheia, e julgamos tudo e todos a partir dos óculos que usamos. Mas e aí, por onde anda a tolerância? Sabemos o que é ser tolerante? Vamos pensar um pouco...


Ser tolerante significa respeitar a opinião alheia, uma opinião que necessariamente seja contrária a nossa, pois ao contrário se chamaria empatia e não tolerância. Não entendo tolerância como uma "virtude dos fortes", como se mostrar tolerância significasse mostrar ser um ser desenvolvido. E também não acredito que não exista limite, como se fossemos obrigados a aceitar tudo ou qualquer coisa, o que se chamaria passividade.

Para ser tolerante é preciso ter opinião formada. Infelizmente muitos de nós não somos tolerantes porque não temos nossa própria opinião, afinal, como respeitar uma opinião se nem sei do que se trata? Conhecemos de muitas coisas superficialmente e acreditamos que sabemos de tudo. E então, nos damos ao direito de julgar. Não é mesmo? Infelizmente, sofremos deste mal. E colocamos a culpa na falta de tempo. Ahh, o tempo...


Na falta de opinião, somos levados pela enxurrada que recebemos em nossas redes sociais. Muitas das vezes não nos damos ao trabalho de ouvir o outro lado da história e passamos a história adiante. Curtir, compartilhar: eis a receita. Sobretudo pela necessidade que as pessoas sentem hoje de mostrar que sabem de tudo, que estão por cima de tudo.

Somos especialistas na superficialidade. E aqui não falo de apego aos bens materiais. Falo de algo bem pior, da falta de profundidade nas ideias. E o único remédio para isso é a reflexão. E isso faz parte de nossa função como cristãos em sociedade.

Quanto tempo por dia você para pra refletir sobre a sua vida? Deixemos a fome na África e os atentados terroristas na Europa um pouco de lado. Vamos falar agora do nosso cotidiano. Já parou pra pensar porque aquela pessoa tem agido diferente? Será que há algo de errado com ela? Será que passa por um momento difícil? Pode ser só um dia ruim. Mas podem ser dias ruins também. E aí?

(Imagem: Rede Super de Televisão)

Durante sua estadia na Terra, Jesus foi até as pessoas em seu "habitat natural". Não mandou recado. Curou aos que necessitavam, sempre depois de perguntá-las se aquilo era o que realmente queriam. Muitas das vezes as perguntas poderiam até parecer banais. Perguntar a um cego o que ele deseja? Ele quer ver! Isso é óbvio, não é? Com certeza, e Jesus também sabia disso. Mas sempre usou de tolerância para com as pessoas. Respeitou a vontade delas até o fim. 

Aquelas que desejaram foram salvas e curadas por sua própria fé. E quanto a nós? Se lhe parece difícil entender muito do que se passa em sua vida hoje, entenda que Deus respeita o livre arbítrio que te deu e age com tolerância com você.

Ele está à porta. Resta a você abrí-la. Ou não.

2 comentários:

  1. Daniel, gostei da sua sacada de associar intolerância com superficialidade. Através da reflexão até seria possível encontrar razões para ser mais tolerante com o outro. Na verdade, esse outro é diferente por natureza, porque é "outro". Podemos também pensar que quando você se incomoda com algo que é apresentado no outro, na verdade a pessoa incomodada está em conflito. A partir da diferença percebida por ela algo de estranho/ desconhecido foi mobilizado no seu interior. "Por que será que eu me incomodo tanto com o outro?" A minha experiência me faz crer que essa rigidez de discurso e postura não faz bem para quem a sustenta, mas ajuda a manter uma máscara e um ideal que a pessoa gostaria de ter a qualquer custo, e nem percebe o quanto isso é vital essa verdade absoluta para ele. Talvez seja por isso que o intolerante tenha que falar várias vezes o mesmo discurso, com alta voz, para se ouvir e confirmar o que precisa defender, para se convencer. Há alguns anos participei de uma formação do pe. João Almeida, scj em que ele dizia sobre o método de Jesus de interrogar, do hábito de fazer perguntas, mesmo que a situação parecesse óbvia, como no caso do cego (como vc citou). Eu acredito hoje que Jesus não queria mesmo só saber o que o cego queria, mas gostaria que o cego soubesse o que o seu próprio interior pedia. Quando você fala o que pensa, dá uma resposta sua para você mesmo, você se escutamo, consegue se conhecer melhor. Então é possível caminhar com humildade, encontrar os verdadeiros motivos pessoais, ter mais clareza de quem se é, mais sabedoria e mais fé.

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  2. Daniel muito bom este texto... e cara adoreiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii a citação de Voltaire !

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