terça-feira, 21 de julho de 2015

A tradição


#6 - Qual é a tradição da qual você não abre mão?

Tradição. Ato ou efeito de transmitir. Transferência que ocorre de geração em geração. Lendas, ritos ou costumes. O passado e o presente. Está é uma palavra que nos remete diretamente a nossos pais, avós, bisavós, tataravós...mas ao mesmo tempo, traduz sentimentos e pensamentos que são parte de nós hoje.

As tradições dizem muito a respeito de nossa cultura. E dentro de nossa Igreja, não é diferente. Quanto sabemos sobre os costumes que temos? Como seria viver sem essas coisas?

Hoje é dia de tomar posse da própria história.
O almoço do domingo. As reuniões em datas festivas. A oração que aprendeu com sua avó. A cueca da sorte. O pedido de "bença" aos parentes mais velhos. As histórias de nossos antepassados que se tornaram verdadeiras lendas. Assim como as histórias engraçadas que todos sabem o final, mas escutam com o mesmo prazer.

Cada vez mais as tradições tem se tornado como um refúgio para as pessoas. Se a correria do cotidiano e a forma como lidamos com o mundo nos despersonaliza, o retorno às tradições se torna uma forma de nos reconhecermos novamente.

Sim, elas são saudáveis. São parte daquilo que nos identifica e nos diferencia da multidão. Cada família tem sua cara, não é mesmo? Basta perguntar a quem já fez a experiência de conhecer os sogros e a explicação se torna chuva no molhado.
Assim também acontece com as festas que celebramos. Festa junina, carnaval, a folia de reis (que "anda meio esquecida", como diria Tim Maia) e tantas outras datas que nos marcam e ajudam a formar aquilo que entendemos como cultura.

Logo, percebemos que tradição é algo bom de ser vivido. Mas, e se por alguma razão, elas deixassem de ser vividas? Um almoço em família pode perder a razão de ser na ausência de um membro importante. Aquela linda história de amor sobre seus avós que cresceu ouvindo pode vir a ser uma mentira. Sua cueca da sorte pode não lhe servir mais.

E aí? O que sobrará disso tudo?
Sobra você, a princípio. E antes que o desespero bata a sua porta, é importante saber que lhe sobra algo mais.

Nós, os seres humanos, somos traduzidos a partir de relações afetivas. Cada pessoa, cada animal, cada memória, cada história com que entramos em contato geram em nós dois processos: emoções e sentimentos. Costumamos acreditar que ambos são a mesma coisa. Mas não são.
As emoções são instantâneas. Quando você tropeça e cai, logo vem a dor. Esta é uma emoção. Se o fato passar batido e logo esquecer-se dele, ok. Mas se começar a se cobrar por ser alguém tão desengonçado a ponto de cair pelos cantos, aí falaremos do sentimento de culpa.

Traduzindo em breves palavras, a emoção passa, mas o sentimento fica. E compreender isso nos ajuda a lidar com as tradições, principalmente aquelas que por alguma razão deixaram de existir.

Se as emoções não mais acontecem, o que permanece em você são os sentimentos. E estes podem ser novamente experienciados.
Aqui, gostaria de traçar uma linha paralela entre as tradições familiares e as tradições da fé. Muito embora na maioria das vezes estas linhas se cruzam, e aprendemos a viver nossa fé a partir de costumes que nos foram passados pelos nossos pais ou avós.

Mas gostaria de ir um pouco além. Quando ficamos apenas na base das emoções e desconhecemos a origem dos sentimentos, corremos o risco de nos perder em algum momento da caminhada. E dentro da nossa fé não é diferente.

Conhecer nossas tradições a fundo é de grande importância. Nos ajuda a vivê-las na intensidade correta. E também a reconhecer quando se tratam de grandes bobagens.
Imagens de santos são viradas de ponta cabeça aos montes e orações são proferidas dia após dia sem nenhum fundamento. E em nome das tradições podemos nos perder.

Se existe um conselho que eu poderia lhe dar, é este: conheça a fundo as tradições que você vive. Sobretudo, saiba os sentimentos que te levam a repetí-las e não deixe que as emoções lhe sufoquem. E por fim, saiba que hábitos podem ser mudados, se assim lhe aprouver.

Que as tradições sejam a base forte que mantenham nossos pés da terra e nossos olhos no céu.

quarta-feira, 8 de julho de 2015

A paz

Acesse ao Google e digite a palavra PAZ. Agora busque por imagens. Uma enxurrada de paisagens e pássaros em liberdade tomará a sua tela, juntas da clássica máxima "paz e amor". Mas a paz que Deus nos traz é um pouco diferente dessa calmaria aparente. Deus nos traz uma paz inquieta.

Paz e amor caminham sempre juntas? É possível encontrar a paz longe da presença de Deus? Onde encontrar a paz que eu sempre quis?

Entre. E que a paz esteja convosco!
Jesus morreu. Os discípulos estavam reunidos, com as portas trancadas. Após três anos seguindo os passos de Cristo, a promessa havia sido realizada, e Ele morrera por nossos pecados. Ele também havia prometido vencer a morte e voltar triunfante, mas já se passavam dias e nada havia acontecido. Aqueles homens se encontravam em dúvida e temor sobre o futuro. Medo era a palavra que resumia o sentimento de todos.

Mas, eis que o Cristo ressuscitado adentra o local e diz: a paz esteja convosco (Jo 20, 19)! Já parou pra pensar que Ele poderia ter dito outra coisa? Eles estavam entre amigos, algum grau de intimidade existia. Além disso, eram as primeiras palavras após a vitória sobre a morte, tinham muita importância.
Jesus, portanto, escolheu aquelas palavras. Elas não se deram ao acaso. Talvez sua experiência na cruz tenha lhe feito sentir o quanto a distância de Deus resulta também na distância da paz. Foi naquele momento, onde Ele perguntou a Abba porque o tinha abandonado (Mt 27, 46). Mas logo, Jesus entendeu que aquilo era necessário, e junto de Deus, entregou seu espírito.

Aqui, podemos entender então que não existe paz longe de Deus. Fomos criados com uma abertura natural ao transcendente, ao inexplicável, a um Deus que é muito maior do que nós. E se fechar a esta verdade é abrir mão de uma fatia muito grande do bolo, que é a própria paz.
As crianças costumam buscar na fantasia a explicação para tudo o que é incapaz de compreender. Mas encontrar a paz vai um pouco além. Acreditar em um Deus punitivo e controlador, que faz de nós o que quer como ventrílocos é uma ilusão absurda, e que pode ser tudo, menos paz.

Nossa fé exige de nós um pouco de maturidade para compreender que temos o livre arbítrio para fazer a opção pela paz. E quando escolhemos a paz, por consequência escolhemos estar na presença de Deus e assumimos toda a responsabilidade por isso. Buscar a paz é fazer um compromisso com a verdade. Paz não é sossego!


Vale também dizer que amor e paz não são duas faces de uma mesma moeda, como costumamos acreditar. É claro que isso depende muito do que entendemos como amor, tema que já tratei aqui e aqui. Mas o que podemos ter certeza é que o único amor que traz a paz é o verdadeiro Amor, aquele que vem do alto. Todo e qualquer outro tipo de amor pode te levar a outros lugares que não a paz.


Antes de finalizar, gostaria de aproveitar o espaço para um esclarecimento sobre o símbolo "paz e amor" que vejo tantos católicos e cristãos usando, na mais pura inocência. O símbolo como vemos hoje foi criado nos anos 50, e mais tarde foi adotado pelos hippies nos anos 60 e 70. Dentro do círculo, se observar bem irá perceber que existe uma cruz de cabeça para baixo com os braços quebrados, como que declarando que "Jesus não é o seu Senhor". Grave, não é? O amor "livre" que eles pregavam em nada se parecem com o amor comprometido que o Cristo pede de nós. Antes de usar este símbolo, saiba que pode estar dizendo algo além do que imagina!!

Espero que possa ter contribuído um pouco com esta reflexão. Agradeço publicamente ao Pe. Pedro Cunha, pois foi após uma palestra com ele na cidade de Guaratinguetá/SP que este texto tornou-se possível. Deus o abençoe!!

Que façamos todos a escolha pela paz que vem do céu.

domingo, 5 de julho de 2015

A nostalgia



Confira este texto narrado via Soundcloud!





#6 - Responda a imagem abaixo:

Quem não tem dinheiro conta história, assim diz o humorista. E cá entre nós, nada melhor do que ter a companhia de pessoas que tem boas histórias pra contar, não é mesmo? E quando falamos de histórias só existem dois caminhos: ou falamos de ficção, ou falamos do passado.

Olhar para trás e ter algo para contar é glorioso. Mas se fixar no passado e se tornar incapaz de olhar para o hoje e o amanhã é preocupante. Hoje, esbarro diariamente em pessoas assim. Que pararam no tempo por algum motivo e perderam a alegria de viver o presente.

O que podemos aprender com o passado? Viver de nostalgia faz mal? Qual o limite para olhar para o retrovisor e não bater de cara no muro? E quanto a nossa vida cristã, onde isso se reflete? Muitas perguntas, que começamos a responder agora.
Uma pergunta simples e direta. Foi assim que convidei meus amigos a se questionarem e voltarem ao passado, ao menos para deixar uma rápida mensagem. Espero que a viagem tenha sido breve e intensa. Intensa pela riqueza que esta mensagem poderia vir a ter. E breve pois nem só de passado vive o homem.

Desta simples provocação, gostaria de levar cada um de vocês a entender que maturidade é algo que se ganha com o tempo. É natural que hoje você esteja mais preparado do que era mais jovem. E entender isso é dar um passo além da vontade de voltar no tempo e querer viver tudo outra vez, pois o que você é hoje dependeu de tudo que já viveu. Seus erros de ontem são seus sucessos de hoje.
Outro desejo meu foi que lhe sobrassem palavras. Que duas palavras apenas fossem uma tremenda sacanagem. E que aceitando a condição, conseguissem se conter em duas palavras que fossem ricas de sentido. A difícil tarefa resume um pouco daquilo que somos no dia a dia. Além de refletir um pouco a forma que devemos nos reportar ao passado.

Nostalgia. Poucas palavras em nossa língua podem ter tantos significados. Para alguns, é a dor do retorno, sendo um dia na história considerada como praticamente uma doença. Para outros tantos, é a saudade acompanhada de bons sentimentos. Pode ser ainda um sentimento de amor que não muda com o passar do tempo, que ao contrário de diminuir, só aumenta. Mas em geral, a nostalgia está associada a melancolia. Ao sentimento de "poderia ter sido melhor".
Santo Agostinho entendia o passado, assim como o futuro, como um tempo da alma, que não existe por si só, mas só ganha "existência" no presente, quando nós o vivemos. Nietzsche ia além, dizendo que a vida boa para o homem estava no alinhamento entre a mente no presente e o corpo no presente. Freud dizia ainda que a nostalgia nada mais é do que um mecanismo de defesa, de quem sente saudade dos tempos de criança e não se sente capaz de viver a angústia intrínseca ao viver.

O que estes pensadores tentavam nos dizer? Que tudo que podemos levar do passado são aprendizados. Tudo o que aconteceu até aqui foi importante, mas daqui para frente tudo será novo. E aqui, nos lembramos Daquele que tudo renova.
Cristo tem o poder de tornar novas todas as coisas. Ele dividiu até a história, nos fazendo sempre lembrar que estamos hoje X anos após o seu nascimento. Quem tem um encontro pessoal com Ele divide sua vida ao meio, sendo alguém antes e outro alguém depois. Assim foi com São Paulo, São Francisco de Assis e tantos outros santos da Igreja. Assim é até hoje, com cada um de nós.

Confiar o passado em Deus é a melhor saída. Se nossos erros nos levaram ao pecado, Ele nos dá Seu perdão. Se houveram momentos do qual sente saudade, lembre-se de tudo com mansidão e peça em oração que novos momentos como esse aconteçam. Se o sentimento diz respeito a uma pessoa em especial, peça com fé e Ele cuidará dela e de você. E se o presente lhe parecer um fardo pesado demais para carregar sozinho, tenha a certeza de que Ele o carrega com você. E acima de tudo, saiba que tudo passa. Até mesmo os dias de sol.
E quanto a minha resposta para a pergunta do início? Ok, vejamos...Simples e direto, com duas palavras, eu diria: erre mais!

Calma, eu explico. Se aprendemos com os erros e a vida é um aprendizado, precisamos ter coragem de errar para ousar acertar. Mas é claro, erros novos. Como diz o ditado popular, persistir no mesmo erro é burrice. Por isso, hoje só peço a Deus a oportunidade de poder viver sem medo de errar. E que sua infinita misericórdia e o Espírito Santo me abracem neste caminhar.

Tenha novos erros, aprenda com eles e caminhe com Cristo. Viva hoje tudo o que há pra viver. Assim, nada há de te abalar.

domingo, 28 de junho de 2015

Não julgueis

Não julgueis, e não sereis julgados. Porque do mesmo modo que julgardes, sereis também vós julgados e, com a medida com que tiverdes medido, também vós sereis medidos. Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu? Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? Hipócrita! Tira primeiro a trave de teu olho e assim verás para tirar a palha do olho do teu irmão.
(Mateus 7, 1-5)

Este é o trecho de uma pregação de Cristo, que se inicia lá no capítulo 5 do Evangelho de São Mateus, quando Ele se coloca a falar sobre as bem-aventuranças. Jesus era manso e humilde de coração, é verdade, mas também sabia usar de palavras e atitudes mais severas quando assim entendia que o deveria fazer. Todos nós nos lembramos do episódio no Templo, não é (veja em Mt 21, 12)?

Tudo isso por um simples motivo. Jesus acima de tudo era sábio. E Ele sabia que em certas situações da vida não se pode dar margem para o erro e para as interpretações. Por isso, ele foi enfático e disse com todas as letras: não julgueis.

O que podemos nós aprender com estas palavras? Como viver este mandamento? Caminhemos por uma vida mais cristã.
A frase acima é Jung, psicólogo suiço, seguidor de Freud. Frase igualmente enfática. E talvez um pouco mais provocadora. Eu, quando entro em contato com essa frase, penso, e logo caminho por uma estrada menos "afiada", digamos.

Sem dúvida, pensar é difícil. Mas entendo que ninguém julga de sacanagem. Jung também não, o que o levou a criar a abordagem analítica da psicoterapia, assunto que não irei tratar agora, pois nosso foco é outro.

Como dizia, ninguém julga de sacanagem. Fazemos isso o tempo todo, querendo ou não. E a razão para isso está associada a dois fatores: um é natural ao ser humano, e outro é resultado do mundo onde vivemos hoje.
O primeiro fator, aquele natural à espécie humana, é de que compreendemos o mundo a partir do nosso olhar. E esta forma de ver o mundo é construída segundo uma construção subjetiva e pessoal. Cada momento de nossa vida constrói aquilo que somos hoje. E se não existe duas pessoas iguais, logo não existem dois olhares iguais.

Somos rodeados por diferentes olhares de uma mesma realidade. É natural que nos aproximemos daqueles mais parecidos com os nossos, mas e quando nos deparamos com olhares radicalmente diferentes?

Primeiro, não compreendemos. E o ser humano, quando diante de uma realidade grande demais para o seu campo de visão, tenta reduzir de forma que esta realidade "caiba" dentro de sua percepção. E aí temos um problema.

Nesse momento, trava-se uma luta para ver quem cabe dentro do mundo de quem. Como não julgar o outro nesse processo? Difícil, não é? Sim, eu compreendo. E aqui, as palavras de Jesus fazem todo sentido quando advertem que: Como ousas dizer a teu irmão: Deixa-me tirar a palha do teu olho, quando tens uma trave no teu? (ver. 4)

O segundo fator é resultado do mundo corrido e egoísta que vivenciamos hoje: a falta de empatia (irei dedicar um texto especial para falar sobre isso, aguardem!!)

Sobre o hábito de julgar, a receita é o perdão. Que mais podemos fazer além de reconhecer que somos todos imperfeitos? Se errar é humano, o perdão é direito de todos, filhos e filhas do Pai. E dar o perdão é um dever de todo o cristão.

Só Deus pode nos julgar, pois só Ele é dotado de infinita misericórdia. Feliz daquele que toma posse dessa verdade.


sexta-feira, 19 de junho de 2015

Razão e emoção


#5 - Existe equilíbrio entre razão e emoção?


Razão e emoção. Duas forças igualmente poderosas. Duas potências de agir que nos provocam a cada momento, a cada importante decisão, ou até mesmo nas escolhas mais corriqueiras da vida.

A metáfora da imagem nos convida ao equilíbrio perfeito entre elas. Mas...será isso mesmo possível? Se alguém tem que ceder...quem seria? Onde o autoconhecimento e a espiritualidade interferem nesta disputa?

Vamos para mais um post interativo!!


Após uma breve pesquisa com alguns amigos sobre existir um lado vencedor, o resultado foi assustadoramente igual: houve empate! Alguns acreditam que a razão ganha, outros que a emoção leva, outros ainda que o equilíbrio seja possível e objeto do melhor desejo. Tudo isso nos leva a tomar algumas conclusões.

A primeira de todas é que, independente de qual lado esteja, qualquer um que fizer a escolha por um dos extremos terá a sensação de estar fadado ao fracasso. O que não é de todo verdade, mas também não é de todo mentira.
Tomemos como exemplo o "100% emoção". Acreditar que tudo o que existe ao seu redor é amor e paz não costuma ajudar a resolver os problemas que aparecem. Ao receber o pedido de um favor por parte de alguém a quem considera muito, dizer "não" pode se tornar um sacrifício intolerável. E a sensação de estar sendo sempre passado para trás pode fazer parte de seu cotidiano. Faz sentido?

Pensemos agora naquele que é "100% razão". Qualquer fato que não possa ser traduzido em números perde o sabor e o sentido. O controle obsessivo é a receita perfeita na tentativa de criar um mundo perfeito, que não existe. E como a raiva não cabe dentro de seu organograma fantástico, apelar para a razão torna-se demonstração de fraqueza. Ser um robô se torna obsessão e motivo de orgulho. Será mesmo?
O começo da resposta de nossa pergunta está a partir de dentro de cada um de nós. E desta vez, não falo do coração.

O cérebro, a máquina mais perfeita, aquela que nenhum homem foi capaz de criar. O cérebro, onde razão e emoção vivem juntos harmoniosamente. Ao lado esquerdo, o raciocínio lógico; ao lado direito, as paixões e amores. É preciso evidência maior de que devemos caminhar com os dois lados em harmonia?

E isso se torna possível quando mudamos nosso paradigma. Voltemos a metáfora do equilibrista.
Quando falamos de equilíbrio, pressupomos algo estático. É como se a razão e a emoção fossem forças constantes, iguais a todo momento. Mas todos nós sabemos que as coisas não funcionam assim. Há momentos onde um sobe e outro desce, e vice-versa, e vice-versa, e vice-versa...

Isso acontece por uma razão simples: a vida é dinâmica. E quando buscamos de alguma forma que estas forças que estão em constante movimento estejam de alguma forma se relacionando bem uma com a outra, falamos de equilibração, e não de equilíbrio. O processo é constante. É preciso estar o tempo todo ligado, senão...um abraço.
E quando pensamos em nossa relação com as coisas do céu? Um equilíbrio dinâmico de nossas escolhas e sentimentos nos ajudam a ter uma conexão maior com Deus? Certamente! Afinal, não faltam momentos onde tudo pede um pouco mais de calma, inclusive para termos condições de entrar em contato com Deus.

O Espírito Santo age naqueles que se mostram em equilíbrio entre corpo, alma e coração. E se não existe fórmula que nos leve a alcançar este estado de graça num piscar de olhos, a vida de oração pedindo ao Espírito, em prece, por sabedoria e serenidade, nos mostram uma luz segura a seguir.

Pedi, e vos será concedido. (Mateus 7,7)

Espero de todo o coração que você possa ter sucesso nessa empreitada. Fácil? Não, nada que realmente valha a pena é fácil. Mas aqui lhe faço um convite. Eu vou tentar. E na graça de Deus, conseguir.

domingo, 24 de maio de 2015

Alegria ou euforia?

Quando me pego parado, olhando para a vida e as pessoas, logo percebo que existem ao redor de nós pessoas tristes, aflitas, buscando algo além pelo que viver. Como disse no texto sobre a procura da felicidade, muitas respostas para as nossas perguntas já estão dentro de nós. Basta confiar em Deus para encontrá-las.

Mas isso não acontece do dia para a noite. Nesse processo, é comum que muitos de nós encontremos pelo caminho fatos e situações que nos deixem em dúvida sobre levar-nos ou não até a verdadeira felicidade. Grande parte dessa dúvida mora dentro desta confusão, proposta no tema deste post. O que vejo à minha frente, é alegria ou euforia? Seriam a mesma coisa? Ou não?
Euforia. Momento de plena emoção. Exaltação momentânea. Entusiasmo. Ansiedade. Encontramos para esta palavra diferentes significados, mas todos apontando para algo comum: a euforia é passageira.

Vivemos em uma sociedade eufórica. Tudo que é bom dura pouco, diz o ditado. E enquanto acreditamos nisso, buscamos a alegria nas coisas igualmente passageiras. A tentação e o prazer são um caminho rápido e prático. Sexo, álcool, drogas e tantos outros prazeres se oferecem a nós nos garantindo que ali mora a verdadeira alegria.
Não, eu não estou aqui com um discurso moralista para condenar tudo que nos brilha os olhos no mundo. Eu não sou um extraterrestre, e vivo neste planeta, assim como você. Mas quero levá-lo a reflexão de que momentos como esse são pura euforia, coisas passageiras. E quando as coisas acabam, você permanece. O que você leva para o resto dos dias?

Aqui chego a um fato importante. O contrário imediato da euforia é o desânimo. Isso faz sentido para você? Se a franqueza te obriga a dizer que tem se sentido desanimado, isso significa que a vida tem lhe preenchido com momentos de muita euforia e pouca alegria.
Alegria. Satisfação. Júbilo. Prazer de viver. Contentamento. Aristóteles costumava dizer que alegria é o sentimento de quem "tá de boa" (é claro, não com essas palavras, mas com essa ideia! rs). Mas alguém alegre é alguém satisfeito com aquilo que tem. É algo mais duradouro, com raízes mais profundas.

Acredito que a alegria é a principal característica de pessoas felizes. Se a felicidade é uma experiência subjetiva e pessoal, a alegria pode ser transmitida entre uma pessoa e outra. E essa capacidade é algo particular do ser humano, afinal apenas nós temos a capacidade de dar sentido à nossa vida e a tudo que nos rodeia.
Quando nosso Papa Francisco escolheu Alegria do Evangelho (Evangelii Gaudium) como o nome de sua primeira exortação dentro de seu pontifício, nos remeteu a nossa missão como cristãos. Transmitir a alegria que leva a verdadeira felicidade, que é o Cristo ressuscitado.

Reconhecer a diferença entre euforia e alegria exige de nós muita sensibilidade. Mas, se eu pudesse resumir esta tarefa em poucas palavras, diria que a alegria está nas coisas que não tem preço. Literalmente falando, pois a felicidade não se compra. E poeticamente falando, quando percebemos que estamos diante de coisas que não somos capazes de mensurar o valor, nos percebemos alegres.

Que a alegria do Senhor seja a nossa força diante das adversidades da vida!

sábado, 23 de maio de 2015

A procura da felicidade


"Encontre algo que você fica tão animado para fazer, que o sol não pode chegar cedo o suficiente na parte da manhã, porque você quer ir fazer a sua coisa."
(Chris Gardner)


A frase acima é dita pelo homem cuja história de vida inspirou o o filme À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happiness), filme este que me identifico muito e que muito já me fez pensar. De fato a felicidade é algo que buscamos do nascimento até a morte. É algo que norteia a nossa vida, nos dá um sentido para o viver.

Mas a pergunta que faço é simples e provocadora: a felicidade é um lugar onde buscamos chegar, sentar a mesa e apreciar o banquete? Ou seria o caminho, a busca até este sonhado lugar? O que existe dentro e fora de nós quando o assunto é sermos felizes? Venha, vamos caminhar juntos em busca do ser feliz!
Antes de tudo, é preciso entender quem é o ser humano. Um ser dotado de vontades, de personalidade, capaz de fazer escolhas, normalmente embasadas no afeto e na capacidade de dar e receber amor. Ser humano que começa a ter sua identidade formada antes mesmo do nascimento.

Dentro do ventre da mãe tudo é escuridão, e ele escuta a voz do pai e da mãe falando com ele, curioso por conhecê-los. Quando acontece o nascimento a identificação é instantânea. Para um bebê, o mundo é belo por si só.
Aquele bebê cresce, e se torna uma criança. A identificação com os pais ganham novos contornos. Essa é aquela fase onde a menina usa escondida as roupas da mãe, quer se maquiar como ela, imita seu jeito de ser. E o menino, ao mesmo tempo, sonha em ser como o pai, aprendendo a ter prazer pelos mesmos gostos dele, como o time de futebol.

É nessa fase também que as crianças começam a sair do núcleo familiar, onde tudo é milimetricamente controlado, e passam a interagir com outras crianças e adultos. A entrada na escola é um momento marcante. E aqui, elas começam a ser privadas da felicidade natural e espontânea que há dentro delas.
Qualquer atitude fora do que os pais acreditam ser o certo é motivo de castigo. Na sala de aula, diante de dezenas de crianças, o sonho de todo professor é mantê-los como anjinhos, sentados em suas carteiras, em completo silêncio. Mas isso é impossível, afinal as crianças são pura energia. E isso levam a situações onde tiramos delas o direito de serem crianças.

Sim, educar é preciso. Mas isso é duro demais dentro do imaginário infantil. E tudo que elas aprendem é que ser elas mesmas é motivo de vergonha. Que ser feliz é seguir a norma. Que a felicidade não está dentro delas, é algo que se deve buscar do lado de fora, pelo mundo afora.
Passa o tempo e crescemos com essa falsa crença. E quanto mais o tempo passa, maior é a sensação de vazio dentro de nós. Vazio ansioso por ser preenchido que se torna presa fácil para a sociedade onde vivemos hoje. A mesma sociedade que te privou a felicidade ontem, hoje quer vendê-la a você.

Carros, roupas de grife, acessórios, produtos de beleza, suplementos, alimentos gourmet, um dia no shopping com o cartão de crédito sem limite. Isso para não falar dos tantos livros de auto-ajuda que nos vendem fórmulas mágicas da paz.
E além de tudo isso, somos proibidos de sermos infelizes. Olhamos as redes sociais e todos estão felizes o tempo todo. Isso me parece um pouco contraditório. Já pensou nisso? Por que mostrar a nossa fragilidade se tornou uma fraqueza? Simples, por que isso virou um negócio. A felicidade se tornou um negócio que se vende por si só.

Deus nos criou criaturas incríveis, cada um com sua forma especial e única de ser. Somos universos particulares. E eis aqui a razão para não existirem fórmulas para a felicidade: somos únicos, e a vida não se resume em poucas palavras. 
Se existe um pedido que eu lhe faço hoje, é este. Nunca deixe de sonhar. Eu entendo que um dia, quando era criança e não entendia bem como a vida era, alguém lhe disse que sonhar era uma besteira. Mas hoje é preciso retomar esta capacidade de sonhar.

Pois Deus tem sonhos e planos maravilhosos para você. E se não tiver sonhos para cruzar com os Dele, a vida vai lhe parecer sem sentido por demais. Há um céu dentro de cada um de nós, já dizia a música. Basta acreditar e ter a coragem para assumir esta verdade.

As respostas moram dentro de você. Uma poesia escrita pelos dedos de Deus.